Uma das atrações turísticas mais peculiares da Califórnia é a mansão Winchester, uma anomalia da arquitetura com cerca de 160 quartos e inúmeros corredores, além de escadas e portas que levam ao nada. A sua origem é tão bizarra quanto sua planta: em construção por quase cinquenta anos, a estrutura foi concebida pela mente de Sarah Winchester, que acreditava estar sendo amaldiçoada por espíritos. O local hoje tem a fama de ser a “casa mais assombrada do mundo” e inspirou a produção do filme “A Maldição da Casa Winchester”, que narra parte da história da viúva responsável por sua criação.
A trama se passa no ano de 1906, quando o terapeuta Eric Price (Jason Clarke) é enviado para a mansão de Sarah Winchester (Helen Mirren) para verificar a sua estabilidade mental, a pedido da criadora de armas de seu falecido marido. Ao chegar no local, Price se depara com a misteriosa casa e logo percebe que diversos eventos estranhos ocorrem constantemente por lá. Ele precisa, então, descobrir se as alegações da viúva são apenas superstição e loucura, ou se ela fala a verdade sobre os espíritos e fantasmas que ali habitam.
Com uma premissa baseada em uma história real cercada de mistérios, que se passa em um cenário curioso e único, é visível o potencial para um ótimo e diferente filme de terror. “A Maldição da Casa Winchester”, porém, não se aproveita disso e cai na mediocridade com uma história genérica de fantasmas. Previsível e repleto de clichês, o roteiro falha em construir suspense em sua falta de sutileza e abundância de diálogos expositivos – o protagonista não descobre nada por conta própria, não tem uma investigação, os demais personagens só explicam tudo que acontece para ele, sem cerimônias -. Grave também é o modo como reviravoltas quebram a verossimilhança da narrativa, ou como certos pontos da trama são apenas esquecidos ao longo do filme – se aproximando do clímax, o advogado das empresas Winchester diz estar enviando uma ambulância para a casa, e claro que o veículo nunca aparece ou é mencionado novamente.
O mais grave de tudo é que o longa quase não utiliza o seu artifício mais interessante: a excentricidade geográfica da mansão. Tirando poucos planos que mostram algo fora do comum na arquitetura, a produção poderia muito bem se passar em qualquer casarão vazio no interior. É surpreendente como Price nunca se perde andando pela confusa casa, mesmo nunca a tendo visitado antes, e sempre chega onde quer com facilidade enquanto espreita pelos corredores a noite.
Além disso, Jason Clarke não compõe muitas facetas para o personagem, que parece entediado até mesmo em suas cenas mais carregadas emocionalmente. A ótima atriz Helen Mirren, por outro lado, faz o melhor com o que tem e entrega uma atuação decente, mas que só parece o desperdício de uma grande atriz. O mesmo ocorre com Angus Sampson, conhecido por fazer um personagem carismático na franquia “Sobrenatural”, que em “Maldição Na Casa Winchester” faz quase um figurante, com apenas um punhado de falas e nenhuma relevância.
A direção, nas mãos dos irmãos Spierig (“Jogos Mortais: Jigsaw”), se mantém no bê-à-bá do terror sobrenatural, com os sustos pontuais e esperados em meio a cenas de corredores escuros, mas ela apresenta seus momentos ocasionais de criatividade (que se assemelham ao estilo de James Wan em “A Invocação do Mal”) como na subversão de um susto óbvio, quando é aparente que um fantasma surgirá no reflexo do espelho, mas na verdade ele aparece de outra maneira.
Algumas cenas foram filmadas na verdadeira Mansão Winchester, porém, como a geografia de lá impossibilitava o movimento, partes internas dela foram recriadas em sets, que são muito bem feitos e detalhados. Já os planos exteriores, também filmados no local, sofrem com um retoque digital exagerado, que tanto recolore as paredes como adiciona cômodos (como a “torre”) que já não existem hoje em dia. Infelizmente, isso acaba deixando o lugar com um ar muito artificial, parecendo menos uma casa real e mais algo saído de um jogo The Sims.
Considerando todo seu potencial, o longa é uma decepção. Seu roteiro exaustivo e pedestre o deixa com cara de uma história de origem feita às pressas após um filme de sucesso, e não de uma produção original, e enquanto a Mansão que o inspirou é única em sua estranheza, “A Maldição da Casa Winchester” é apenas uma réplica (e uma não muito boa) do que o público já está cansado de ver.
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