“Monster” conta a história de Minato Mugino, que tem uma amizade conturbada com outro colega e com seu professor, Hori. Quando sua mãe começa a querer entender o que está acontecendo com seu filho, a história toma uma dimensão completamente diferente do que todos aqueles que observavam os garotos imaginavam.
O filme é dirigido pelo aclamado diretor Hirokazu Koreeda, que decide brincar com o espectador na mesma forma que Kurosawa brincou com a imaginação de seus apreciadores com a obra “Rashomon”. “Monster” começa prometendo o que pode ser quase um fim do mundo para aqueles que estão presentes na história, tendo um incêndio imenso no meio da cidade como o evento que desencadeia tudo aquilo que está por vir de forma direta.
Depois dessa simbologia de um prédio comercial, como uma Torre de Babel em chamas, a direção captura a interpretação de três personagens sobre os fatos que ocorrem, sendo o ponto de vista da mãe, da diretora da escola e do professor Hori. E quando se tem as 3 leituras junto com a leitura mais importante, que é a verdade sobre a dupla de amigos, se tem a noção de como o mundo dos adultos tem uma limitação que sempre atingem as crianças.
Seja o professor Hori, a mãe de Mugino e a Diretora, a vida está acontecendo para as crianças de forma assustadora aos olhos delas. Como uma criança pode entender o luto, ou alguém chamá-la de cabeça de porco? Como uma criança pode saber o que é o “normal” se o “normal” dos adultos é destrutivo? Como essas crianças podem entender o significado de amor, se os mais próximos delas deturpam completamente esse termo?
Em “Monster” existe a crítica sobre um choque de gerações, uma geração que ensaia seu comportamento diariamente para tudo acontecer em paz e com o mínimo de burocracia possível, e a geração que carrega os erros e os medos de gerações passadas e não conseguem falar com ninguém sobre isso, nem mesmo com aqueles da mesma faixa etária.
Mesmo a obra flertando muito com o suspense e o terror no início, pela visão apocalíptica abordada pelo diretor e pela condução que ele toma sobre seu jovem protagonista no começo da obra, o filme muda completamente quando chega a hora de abordar o ponto de vista das crianças sobre os acontecimentos.
O que faz todo sentido, já que posso utilizar das palavras de H.P. Lovecraft para falar sobre um sentimento específicos dos adultos na obra: “O sentimento primordial da Humanidade é o medo; o medo primordial da humanidade é o desconhecido”.
Os adultos não entendem o que está acontecendo com as crianças e o porque delas agirem desse jeito, não entendem porque fazem tal coisa ou o porque de mentirem, e chega a ser trágico esse medo que existe nos adultos na obra, pois ele existe simplesmente pela falta de diálogo. A falta de quererem realmente saber o que está acontecendo na cabeça daqueles jovens.
Não atoa a personagem da Diretora, que acaba de passar por uma perda familiar, olha para tudo que está acontecendo à sua volta com desencanto e desinteresse. Espectadora de um mundo que para ela acabou, e voltando a ter um pouco de humanidade quando quer ajudar alguém, que passa por uma angústia interna destruidora como ela, ensinando um instrumento musical de sopro por exemplo. Transformando o grito em uma melodia desafinada.
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“Monster“ é a busca de um renascimento de dois jovens que não entendem o porque existem, é o retrato de uma solidão criada pelo individualismo diário dentro do modo de sobrevivência ocidental, é a tempestade ou o incêndio que sempre acontece (matando algumas coisas para nascerem novas).
No final, todos que estão na obra são “monstros”, até aqueles que o assistem. Mas fica a pergunta ao espectador: Você sabe que também é um Monstro? E se sabe, que tipo de Monstro você é?
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