Assim como há muito tempo acontece nas cidades, na selva há jovens sendo abduzidos. Os alienígenas que tomam os seus corpos, no entanto, não são de outro planeta. Eles são daqui da terra mesmo, e não usam discos voadores. Seus instrumentos de abdução são a agulha na veia e o cachimbo na boca. Esses seres invasores seduzem os nativos e os levam à morte através de armas criadas em laboratórios. Infelizmente, não há até agora uma força terrestre que possa derrotá-los. Ainda mais no Brasil, um país destituído de apoio social onde talvez o independence day nunca chegue, e a devastação do apocalipse das drogas esteja cada vez mais perto de acontecer.
“Noites Alienígenas” mostra algumas das vítimas dessas abduções. O mais cruel é que os corpos delas não são levados por luzes que vêm do céu. Na verdade, os corpos ficam enquanto as almas desaparecem. Ver o personagem indígena Paulo (interpretado com bastante vigor artístico por Adanilo) em transe depois de usar uma das substâncias vendidas por traficantes locais é como ver um doente em estado terminal. Ele se contorce e balbucia palavras sem sentido. Seu cérebro está mergulhado em um sonho em que uma serpente gigante toma conta dele. É ela, portanto, a representação do mal, ao mesmo tempo que é um dos símbolos de uma região do país que está sitiada por bandidos de toda a espécie.
A etnia de Paulo é primordial para que o tema do longa de Sérgio de Carvalho seja desenvolvido, já que demonstra que as facções criminosas do sudeste chegaram até o coração do Brasil. Estão agora na mãe terra Amazonia envenenando os povos ancestrais. Claro que os outros povos também sofrem, principalmente os jovens como Rivelino (Gabriel Knoxx), que não é viciado como Paulo, mas faz parte de toda a doença que tomou conta da região porque trabalha para o traficante “gente boa” Alê (vivido por um Chico Diaz que parece estar realmente sob efeito de alucinógenos). O fato é que, indígena ou não, todos estão em um caminho sem volta.
Para mostrar essa tragédia de forma mais direta e crua possível, a montagem de André Sampaio para “Noites Alienígenas” é composta por cortes secos que fazem os espectadores acompanharem a vida de vários personagens intercaladamente, mas sem responder a uma ordem que poderia levar do lado A ao lado B. Evidentemente, as histórias estão conectadas pelo tráfico, e por isso é fácil perceber que elas se tornarão apenas uma no desfecho do filme. Só que, até que ele chegue, a narrativa é constituída de mini dramas que externam as agruras de pessoas que não conseguem enxergar o horizonte, mesmo que no de Rio Branco no Acre, cidade onde tudo se passa, não haja prédios que possam obstruir suas visões.
Por causa da falta de saída, o que resta a eles é tentar fugir dessa vida, mesmo que para isso seja preciso se entregar àquilo que também se torna suas prisões: as drogas. A fuga só aparece por meio de ilusões, seja durante um ritual indígena ou nos minutos antes da morte. Nesses momentos, tudo é lúdico e transcendental. Pena que são apenas truques criados pelos seus cérebros doentes.
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