Viver plenamente o capitalismo é a meta de quase todos os cidadãos de uma sociedade. Os que o vivem são seres místicos que olham do alto de suas mansões isoladas por muros e cercas elétricas o proletariado lutando por pequenas doses do prazer que o dinheiro pode comprar. No meio dessa luta na parte de baixo da pirâmide, há alguns que até conseguem, por meio de parcelamentos em cartões de crédito e intermináveis financiamentos, ter alguns de seus desejos alcançados, mas, uma enorme parte deles vive das sobras e do lixo, escondidos na escuridão decrépita da cidade. É possível vê-los embaixo de viadutos ou mesmo no meio das calçadas.
Em “O Rei de Roma” os andarilhos miseráveis são personagens primordiais na história, mesmo que o protagonista seja Numa Tempesta (Marco Giallini), um milionário fanfarrão que acumula riquezas por meio de compra e venda de empreendimentos imobiliários. Tempesta é condenado pela justiça por fraude fiscal e precisa prestar serviços comunitários em uma ONG que dá assistência a moradores de rua. Depois de um início conturbado por causa da desconfiança de Angela (Eleonora Danco), a coordenadora do local, e por não se adequar ao trabalho de limpador de privadas, o ricaço consegue se integrar e passa até a convidar os andarilhos a visitarem sua luxuosa mansão, criando uma amizade incomum com eles.Com a tentativa de fazer um humor sarcástico, o diretor Daniele Luchetti constrói situações interessantes do ponto de vista da crítica social, mas esse mesmo humor é prejudicial ao filme, já que alguns momentos não funcionam na tela. Então, se a intenção era causar aquele riso nervoso no espectador, na maioria das vezes não é bem sucedido, gerando no lugar muita vergonha alheia. Outro fator que incomoda durante a projeção é a trilha sonora quase incessante. Sequências inteiras são permeadas pela música em segundo plano, que acompanham as falas dos atores e só cessam quando algum tipo de conflito é resolvido. Um artificio que lembra muito programas de comédia feitos para a televisão.
É realmente como uma espécie de sitcom que a narrativa é desenvolvida, só faltam mesmo as risadas forçadas da plateia após uma piada. A montagem pula de núcleo em núcleo de personagens que apresentam seus diálogos em plano médio e tentam tirar graça de algumas situações que, se o roteiro fosse de um drama sério, gerariam lágrimas. Lágrimas essas pela condição de vida precária de pessoas que vivem em um país de primeiro mundo e de enorme importância como a Itália. E, para representar essas pessoas, há o destaque para o pai Bruno (Elio Germano) e seu filho Nicola (Francesco Gheghi) que perambulam por Roma em busca de abrigo e comida. Os dois serão importantes para o desenvolvimento humano de Tempesta – que possui problemas de infância com seu pai. O embate entre o capitalismo canibal e aquele de segundo nível, que visa a sobrevivência, gerará ensinamentos para os personagens envolvidos. Resta saber se, na moral da história, há algum tipo de lição que não os leve direto para o buraco, independente da felicidade aparente.
Fotos e Vídeo: Divulgação/Pagu Pictures
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