Crítica social, delicadeza e lirismo
Escrito e dirigido por Rosemberg Cariry, “Os Pobres Diabos” nos mostra a visita de um circo a uma cidade no interior do Ceará. Durante essa estadia os artistas apresentarão uma peça sobre o cangaceiro Lamparina, o homem mais temido do sertão, e sua visita ao Inferno. O personagem é obviamente inspirado em Lampião. Contudo, os artistas circenses passam por tempos difíceis: baixa temporada, pouca renda obtida pelo circo e o inevitável questionamento de suas vocações artísticas e falta de incentivo que lhes tira o prazer no fazer da arte. O que os leva ao dilema de abandonar ou não a carreira circense.
O próprio fracasso nas finanças do circo já é um símbolo forte. E a intensão aqui é pensar sobre o isolamento da arte e da poesia em meio a uma sociedade de consumo e a arte como produto de mercado. E “Os Pobres Diabos” consegue desenvolver este tema também utilizando outras metáforas dentro do filme. E este talvez seja o tema mais essencial do roteiro que evolui para assuntos como corrupção da elite econômica, a desigualdade social, a exploração dos mais pobres, a vida cruel no interior do nordeste, o coronelismo e até mesmo a identidade cultural do local. Tudo é tratado com lirismo: os amores platônicos, a paixão dos artistas e sua a entrega à arte. A direção de Rosemberg consegue tratar desses temas de forma genuína e sem clichês. Como não poderia ser diferente, ao se tratar de artistas circenses, há um tom sublime e teatral. E não conseguiria ter esse resultado sem seu elenco fenomenal: Chico Diaz, Silvia Buarque e Gero Camilo são uns dos nomes que reforçam essa trama com maestria e entregam com excelência atuações magníficas
Mas apesar disso, a primeira parte do filme é um tanto arrastada e demora a estabelecer sua trama. A relação entre os artistas, os casos de amor, as rivalidades demoram a aparecer e são tratadas com superficialidade, enfraquecendo a história e dificultando a leitura.
A fotografia de “Os Pobres Diabos” com as cores deslumbrantes de um nordeste folclórico propõe um visual épico à secura e sofrimento do cotidiano do sertão, a vida itinerante do circo e as dificuldades dos protagonistas. O sofrimento dos personagens é intensificada pela presença dos símbolos cristãos na história que traça um paralelo entre a dor cristã e a dor dos artistas nordestinos. A fotografia é definitivamente um dos pontos altos do filme.
Na segunda parte do longa, quando o roteiro estabelece a história de Lamparina e sua visita ao inferno, o teatro e a realidade se misturam, mas essa parte do filme se desenrola com uma narrativa mais orgânica. A peça de teatro se entrelaça à narrativa dos personagens e tudo ganha tom de farsa, não perdendo porém a crítica social e o sarcasmo já propostos na primeira metade.
“Os Pobres Diabos” é um filme delicado, com um elenco poderoso e uma fotografia belíssima! Vale à pena ser visto!
Por Thiago Pach
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