Carolina Markowicz é brilhante e “Pedágio” é um filme necessário
“Pedágio” apresenta um cenário preconceituoso e louco que ainda existe no Brasil. O filme que foi exibido no 48º Festival de Toronto, e que estava na pré-seleção disputando uma vaga para a categoria “Melhor Filme Internacional do Oscar 2024″, apresenta uma mãe que é atendente de um pedágio e que, inconformada com a orientação sexual do seu filho, decide financiar um projeto que “promete” curar essa “doença”.
Há quem ache que esse cenário não existe no Brasil ou essa mãe, que é interpretada pela brilhante Maeve Jinkings, é só uma personagem. Mas essas pessoas que não aceitam ou financiam esses projetos que, claramente, beiram a loucura, estão mais próximas do que você imagina. E o filme comprova isso. “Pedágio” é intenso. Você precisa estar preparado para a sua história e sua intensidade.
Não é o primeiro longa da Carolina Markowicz e isso é claro. A diretora, que faz um trabalho excelente em mostrar a ignorância da mãe Suelen e a rebeldia e o senso de humor do filho Tiquinho, que é protagonizado pelo ator Kauan Alvarenga, imprime sua marca. É inevitável não saber que você está assistindo a um filme da Carolina Markowicz. E sem interesse de mostrar um final feliz, já que vai na contramão de apresentar a realidade dura e cruel a diretora, que também assina o roteiro, quebra as expectativas do público. “Joga” no colo do espectador uma reviravolta de fincar suas mãos na poltrona do cinema. Carolina Markowicz é brilhante.
E não é a primeira vez que Maeve Jinkings trabalha com a diretora. A mesma participou de “Carvão”, que também foi protagonista. Maeve possui um diferencial, possui um talento que só a atriz tem. Já Kauan Alvarenga rouba a cena. Também não é a primeira vez que o ator trabalha com a Markowicz. O próprio protagonizou o curta-metragem “O Órfão” em 2018, que levou o Queer Palm, prêmio para filmes com temática LGBT em Cannes. Alvarenga cria um tom específico para o seu personagem Tiquinho, criando uma conexão com o público. E Thomás Aquino, que interpreta o Arauto namorado de Suelen, é impossível não perceber seu talento na tela.
A direção de arte, que ficou nas mãos de Vicente Saldanha, e a direção de fotografia, com Luis Armando Arteaga, é um dos pontos positivos em “Pedágio”. O filme é visualmente bonito, com uma fotografia incrível.
“Pedágio” não se limita à sua narrativa e também não tenta suavizar o caso. É um filme importante e que veio em um momento pontual, já que as últimas notícias no Brasil são um retrocesso. Mas o longa também mostra que é importante contar essa narrativa, mostrando o outro lado, revelando a história de uma família brasileira que realmente existe e que chega a assustar quem está assistindo.
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“Pedágio” é doloroso, mas necessário. É revoltante, cruel e louco. Mas também potencializa uma vontade de mudar essa história, esse cenário que infelizmente é comum no Brasil, apoiar e dar voz à comunidade LGBTQIAPN+. E não financiar qualquer projeto que faça menção a uma cura. Essa “cura” traz a morte para essas pessoas. Traz depressão e ódio. E ainda bem que o cinema brasileiro tem a Carolina Markowicz para contar essa história em “Pedágio”.
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