Uma das mais realistas representações da moral religiosa brasileira que o cinema nacional pode entregar. “Pedágio” é brilhante em seu roteiro, seus simbolismos e em sua mensagem, que ao final do filme nos deixa com a mesma sensação de ter levado um tapa na cara.
O filme conta a história de Suellen, uma cobradora de pedagio que possui um “grave” problema em casa. Seu filho, Tiquinho, é gay. Desesperada, ela recorre a ajuda de uma amiga, que a aconselha buscar ajuda científica: um pastor estrangeiro que promete ter a “cura gay”. O tratamento é extremamente caro, e para garimpar o dinheiro, Suellen percebe uma forma alternativa de aumentar sua renda.
Toda a narrativa se passa na cidade de Cubatão. E a diretora Carolina Markowicz consegue expressar com assustadora exatidão as facetas da vida no interior. E isso vai desde pequenas interações entre os personagens em seus trabalhos, suas relações interpessoais e até sua religiosidade. Mas esse último ponto merece destaque. O roteiro do longa se apropria de arquétipos presentes nos templos evangélicos espalhados por todo território nacional, impregnando nas falas a lógica cristã.
Pedágio abraça o absurdismo do cotidiano brasileiro
Mas isso não se reflete nas ações dos seus personagens, que não só deturpam essa lógica pré-estabelecida, mas vai de total encontro a ela. O absurdismo da contradição entre ação e fala é abraçado com louvor, e é capaz de proporcionar momentos cômicos extremamente pontuais que são executados com primor.
Outro ponto alto do filme são as suas atuações, que são brilhantes. Kauan Alvarenga, que interpreta Tiquinho, entrega momentos sensíveis nas interações com a sua mãe. Mas também é incrível ao fazer pequenas inserções sarcásticas ao longo dos seus diálogos. O filme brilha, entretanto, quando a personagem de Maeve Jenkings e o de Kauan Alvarenga estão juntos em cena, e aliadas ao roteiro de Carolina Markowicz, nos proporcionam um cenário muito comum dentro da comunidade LGBTQIA+ brasileira: uma mãe que ama muito seu filho, e que prezando por sua segurança, acaba reproduzindo o que ela teme que aconteça com ele.
“-Você acha que o mundo lá fora é fácil pra gente que nem você?
-Lá fora, mãe?”
Visualmente, o filme se destaca em pontuais cenas com a sua fotografia, mas não inova nesse aspecto, e em certos pontos recicla bastante alguns posicionamentos de câmera, mas nada que seja gritante. Isso por que a montagem salva um pouco o filme de cair numa repetição constante, não deixando que ele seja exaustivo visualmente.
“Pedágio” é sem duvidas um projeto extremamente importante para o cinema nacional e para a sociedade brasileira, colocando pra fora um grito que é constantemente silenciado.
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