Qualquer um que seja grande fã de rock ou que tenha sido grande fã de rock na adolescência deve se identificar com a obra autobiográfica de Cameron Crowe. “Quase Famosos”, cativante desde o início, mostra o cenário musical de bandas de rock na década de 70 com as doses certas de fascínio e saudosismo. Seu elemento mais especial, e por isso o fator de identificação é tão grande, é o do protagonista comum, que não pertence ao mundo dos grandes artistas e figuras icônicas que o permeiam. Não apenas nesse sentido, mas também por colocar tal personagem num momento de libertação, de ganho de autonomia, sendo calcado no sentimento de libertação originário do rock.
Assim, “Quase Famosos” funciona muito bem como coming of age, com um fundo de pano que envolve a excursão de uma banda lendária próxima do que foi o Led Zeppelin ou Lynryd Skynryd. O elemento da paixão platônica de William (Patrick Fugit) por Penny Lane (Kate Hudson), é outro que faz o filme se enquadrar nessa proposta, e faz isso sem parecer necessariamente previsível ou dentro de uma fórmula. Parte dessa organicidade presente aqui vem do talentoso elenco aliado ao roteiro que convence e que possui exageros e extrapolações dentrdo crível, criando um mundo muito razoável aos olhos do espectador. Aliás, esses ambientes tão palpáveis que vemos também são fruto de um trabalho muito bem realizado de direção de arte e de figurino, reconstruindo a década de 70 com bastante esmero e fidelidade, sem grandes espaços para idealizações ou exageros.
E é claro que a trilha sonora é um elemento essencial em “Quase Famosos”, por tratar o tempo inteiro da temática da música. Tanto as canções originais do longa-metragem quanto as já existentes e utilizadas durante a projeção caem muito bem, se enquadram dentro daquela proposta e aferem também características sonoras para o que assistimos durante quase duas horas. Em particular, a cena em que “Tiny Dancer” de Elon John é tocada emociona e dá um sentido de coletividade para o grupo que acompanhamos durante o filme, ajudando no vínculo emocional que temos para com ele. Cena essa que, aliás, poderia facilmente acontecer na realidade, o que acaba sendo ainda mais eficaz por parte das escolhas de Cameron Crowe.
Por fim, “Quase Famosos” pode ser resumido como brutalmente honesto e sensível. É interessante demais observar o cotidiano de grandes figuras do meio musical através dos olhos de um adolescente, de um fã, e construir a evolução desse indivíduo pelo que ele vive nessa convivência. É evidente que a música e o glamour relacionado à ela são os chamarizes mais superficiais de “Quase Famosos”, mas seu maior mérito é usar desses cenários para discutir assuntos bastante intimistas. Isso pode ser dito tanto em termos de evolução pessoal, como mencionado antes, mas também de relações interpessoas, de relações familiares. Dessa forma, ainda que fãs de música tenham experiência diferenciada, “Quase Famosos” é um filme para todos que estejam abertos à ele, que trata de questões muito universais e caras para todos.
Imagens e Vídeo: Columbia Pictures do Brasil
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