Histórias acerca de vampiros costumam ser invariavelmente cativantes, sem dúvida. E elas se enriquecem consideravelmente quando adornadas com elementos que as transportam para o domínio metafórico, onde podem discutir a condição humana, as complexidades da sociedade, entre outros tópicos pertinentes. Esse é o caso de “Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário”, uma produção canadense laureada com o prêmio de melhor filme na seção Jornada dos Autores do Festival de Veneza deste ano. Sob a direção da estreante em longas-metragens, Ariane Louis-Seize, o filme, para além de possuir um título inventivo, aborda a intricada e tumultuada fase da adolescência seguindo a trajetória de Sasha (Sara Montpetit), uma jovem vampira que se vê incapaz de ceifar vidas humanas para saciar sua necessidade e, principalmente, por sobrevivência. Ela reside em companhia de seus pais, que, cientes do dilema da filha, provêm-lhe diariamente com bolsas de sangue. Todavia, em determinado momento, eles decidem por cessar o auxílio e pedem que ela aprenda a caçar para prover seu próprio sustento.
Sasha então deixa o lar da família e se muda para a residência de sua irmã mais velha, incumbida de monitorar e instruir a jovem nas artes vampirescas. No entanto, entra em cena Paul (Félix-Antoine Bénard), um jovem que é alvo de constantes perseguições de valentões do colégio, e, por conseguinte, almeja pôr fim à sua própria vida. Ambos estabelecem um pacto com o intuito de conjugar o “útil ao agradável”: ele anseia pelo suicidio, enquanto ela precisa do sangue. O problema emerge quando os acontecimentos não seguem o rumo aguardado, e um romance floresce, atrapalhando os planos preestabelecidos. A partir deste ponto, o enredo forjado pela própria Louis-Seize, em colaboração com Christine Doyon, aborda temáticas como o primeiro amor e o sexo. O último se materializa nas ocasiões em que Paul se entrega à vampira, contudo, esta não consegue fazer com que suas presas se revelem para que possa drenar o sangue. A correlação entre sua presas escondidas e a dificuldade da perda da virgindade é, portanto, evidente.
Para desenvolver suas metáforas sobre a juventude, “Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário” utiliza os formatos característicos dos filmes de Hollywood, que têm cativado o público cinéfilo ao longo do tempo. Como efeito, encontramos os Valentões dos colégios, o nerd intelectual que padece na solidão, a jovem estranha e gótica, trabalhos temporárias em boliches e, sobretudo, as tipicas casas suburbanas sem muros como cenários principais.
O texto então navega através desses elementos e constrói sua trama previsível, daquelas que o espectador mais atento é capaz de antever ainda nos primeiros minutos. As intenções dos realizadores, contudo, são nobres, e pelo menos há uma tentativa de subverter a fórmula desse tipo de filme, o que já é um ponto a favor. Ademais, as escolhas estilísticas na fotografia, notavelmente emulando a penumbra noturna, conferem à obra elegância nas tonalidades destacadas pelos focos de luz em cenários escassamente iluminados.
Em resumo, “Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário” apresenta uma narrativa um tanto clichê, envolta em um arquétipo amplamente explorado, mas consegue cativar o espectador e incitar a reflexão através de seu artesanato cinematográfico bem confeccionado.
Este filme foi exibido durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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