Como o lendário guitarrista do Pink Floyd transformou limitação técnica em linguagem emotiva e definiu uma geração com solos memoráveis
Poucos guitarristas na história do rock conseguiram criar um estilo tão imediatamente reconhecível quanto David Gilmour. Com sua abordagem lírica, notas sustentadas com precisão quase espiritual e um uso de vibrato que beira a assinatura pessoal, o músico britânico influenciou gerações inteiras — não apenas pela técnica, mas por uma filosofia de tocar que prioriza a emoção acima da virtuosidade.
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Em uma rara conversa com o produtor e youtuber Rick Beato (via Guitar World), Gilmour ofereceu pistas sobre o mistério por trás de seu estilo: o que alguns chamam de “efeito Gilmour”. Segundo o próprio guitarrista, a escolha estética por solos mais cantados do que rápidos surgiu de uma constatação sincera. “Nunca fui agraciado com velocidade. Tentei praticar muito quando era mais jovem, mas percebi que aquilo não ia acontecer”, contou. Em vez de se frustrar, ele buscou outras formas de se expressar, inspirando-se em nomes como The Shadows — grupo britânico instrumental dos anos 1960 que valorizava a melodia.
O resultado foi uma abordagem onde cada nota tem um peso emocional. Canções como “Time”, “Hey You”, “Shine On You Crazy Diamond” e “Comfortably Numb” não seriam o que são sem a sensibilidade com que Gilmour constrói seus solos. Sua técnica de vibrato, que combina o uso sutil dos dedos e da alavanca da guitarra (whammy bar), não foi algo planejado, mas desenvolvido ao longo de décadas, de forma quase orgânica. “É algo natural que veio com o tempo. Às vezes, um pequeno vibrato é tudo que uma nota precisa para ganhar vida e refinamento”, explicou.
Essa combinação de bom gosto, economia de notas e sentido melódico é o que faz com que tantos músicos tentem — e falhem — em reproduzir seu som, mesmo usando os mesmos equipamentos. Como afirmou Phil Taylor, técnico de longa data do Pink Floyd, “não importa o quanto você duplique o equipamento, você nunca vai duplicar a personalidade”.
Mesmo com todo esse domínio, Gilmour segue sendo um artista de natureza introspectiva. Ele revela que, em algumas ocasiões no palco, sente que seus solos se alongam demais. “Às vezes eu penso: ‘estou indo longe demais. Hora de parar’. Mas na maioria das vezes, deixo o solo seguir até que sinta que é a hora de concluir”, diz, descrevendo um processo quase intuitivo, como se o instrumento falasse por si.
Agora, aos 78 anos, o guitarrista acaba de finalizar a turnê de “Luck and Strange”, seu primeiro álbum de estúdio em nove anos. Em entrevistas recentes, Gilmour foi enfático: “É o melhor disco que fiz desde ‘The Dark Side of the Moon’”. Com novas composições e o mesmo cuidado artesanal de sempre, ele continua reafirmando que musicalidade e honestidade artística ainda são as qualidades mais revolucionárias que um músico pode ter.
David Gilmour em 2024 no Royal Albert Hall. Imagem Destacada: Divulgação/Instagram (via @davidgilmour)
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