Western brasileiro e moderno, “Do Sul – A Vingança” traz a violência gerada pela corrupção, mas com toques de humor
Comecemos com uma obviedade: fazer filmes no Brasil é muito, mas muito difícil e principalmente quando de se trata do gênero ação e vingança, há exemplares ainda mais raros, na sua maioria realizados na região sudeste do país e ainda mais concentrados em São Paulo e Rio de Janeiro.
Então é com muita surpresa que tenhamos uma obra como “Do Sul – A Vingança” escrito e dirigido por Fábio Flecha, que apresenta uma proposta de western moderno e brasileiro em sua essência, filmado em sua maioria na região do Mato Grosso Do Sul (muita atenção nessa diferenciação, pois faz parte da trama), perto da fronteira com nossos hermanos da Bolívia e principalmente do Paraguai, que ao mesmo tempo é um filme envolvendo criminosos ao estilo de Sam Peckimpah (e não Tarantino, pois esse veio bem depois).
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A história começa de forma criativa quando um escritor carioca de nome Lauriano, interpretado com inocência por Felipe Lourenço, especializado em escrever sobre corrupção e violência, está em divulgação do seu livro e, após a pergunta de uma pessoa da plateia, fica curioso e vai até um deputado corrupto e condenado pela justiça que acabou de receber a benesse da prisão domiciliar, para entrevistá-lo na possibilidade de ter material de um novo livro, o qual seu editor pede pressa pela situação econômica do veículo pelo qual escreve.
E a partir dessa entrevista, começa uma trama de manipulação, traições e, principalmente, o desfile de um festival de tipos característicos das diversas regiões do país, pois embora seja muito regional, com suas gírias e ritmo que consegue demonstrar a vastidão do Mato Grosso do Sul, outras regiões se veem representadas e, claro, com um pouco de zombaria envolvendo os locais, paulistas, cariocas e índios que habitam aquele cenário de fronteira onde parece que tudo é possível.

Tudo isso alicerçado por parábolas e metáforas, algumas carregadas de ensinamentos calcados em coaches picaretas, bandidos alçados à categoria de mito, outras gags engraçadas e divertidas que aliviam o peso de uma história pensada e realizada para falar de uma das nossas maiores mazelas sociais: a corrupção que parece eterna em todas as instituições, e a violência que dela advém.
Pois não tenham dúvidas, se hoje há mazelas, favelas, gente com fome e ricos políticos que a toda semana aparecem nas redes sociais suspeitos de algum ilícito, podem ter certeza de que a facilitação desses crimes começa por essas figuras públicas e também passa pela corrupção dos agentes da lei, onde acordos de todo tipo tem que ser costurados na tentativa de se manter um mínimo de civilidade e possiblidade para se viver em lugares onde o crime frutifica ou até impera.
Não que pareça ser o caso do filme do diretor e roteirista Fábio Flecha ser panfletário, mas não há muita sutileza nas mensagens que passam através de todo o filme, mesmo em meio à violência e muitas passagens de humor realmente divertidas, que por bem não entram em conflito com o filme apesar do tema sério e, pelo contrário, trazem a tensão através de algumas caricaturas convincentes tantos dos veteranos — com destaque para o grande David Cardoso — como dos novatos, como Bruno Moser que todas as vezes em que aparece rouba a cena.
Bem filmado e apresentando qualidades técnicas com boas cenas aéreas, filmadas com drones, que ajudam a ilustrar a imensidão dessa região do país pouco conhecida pelo público no cinema brasileiro, efeitos especiais que são funcionais embora nas cenas de tiroteio denunciem o orçamento e esforço dos realizadores para apresentar o melhor possível em termos de visual, trata-se de um belo exemplar à luz dos filmes de diretores e diretoras brasileiros, na sua maioria autorais, que geralmente são os lançados em nossas salas durante todo o ano.
Quem venham mais iniciativas de filmes de ação como esse, pois a variedade de regiões e dos temas são necessários para o alicerce de uma indústria.
Imagem Destacada: Divulgação/Render Brasil Produções

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