Há alguns meses, a temporada da novelinha juvenil estreava com grandes promessas, como foi dito aqui. Ao contrário do que vimos durante os seus mais de 20 anos de exibição, desta vez não haveria um casal protagonista, mas sim 5 meninas com diferentes cabeças que acabavam de se conhecerem de uma maneira pouco comum: uma delas dava a luz em um metro.
Acabou que este começo meio inesperado foi um grande pontapé para a obra, que este ano trabalha com o subtítulo “Viva a Diferença”. As 5 meninas são o ponto alto da história, e dão bastante pano pra manga.
A começar pela que deu a luz no vagão. A história nem é exatamente original em Malhação, mas por ser uma das protagonistas ela é um pouquinho fora do eixo. Keyla é uma garota como muitas outras de sua idade, que vive apenas com seu pai e é mãe adolescente. Por causa do bebê acaba um pouco distanciada dos estudos, mas não pensa em abandoná-lo.
Benê é uma jovem com algum grau de autismo. A trama já foi tratada sem nenhum cuidado antes, em uma novela das 21 horas, mas no folhetim ganha contornos interessantes ao fazer com que criemos empatia com a jovem que não sabe como reagir em interações sociais, nunca teve amigos muito próximos – só foi tê-los quando conheceu as outras 4 protagonistas – e tem uma grande dificuldade em se expressar.
Ellen fecha o trio que estuda na escola pública Cora Coralina. Inteligente, ela é auto-didata em computação, sabendo hackear qualquer sistema. Por fazer isso constantemente na escola ela quase foi expulsa, mas foi exatamente isso que ajudou o grupo a fazer o parto no vagão do metrô.
Tina é uma jovem descendente de oriental que sofre pressão da mãe para se tornar uma médica, mas que tem uma grande aptidão para música e gosta de fazer rap, na verdade. Ao namorar com um jovem negro sente na pele o preconceito materno pelo rapaz que escolheu.
E, para fechar o grupo, temos Lica, a rebelde e revoltada do grupo. Lica é, provavelmente, a que mais ousa das garotas e foi responsável por dar o primeiro beijo lésbico dentro da trama juvenil: um selinho em outra personagem da história. Tina e Lica estudam no colégio pertencente a família de Lica, uma instituição particular.
Dividir o grupo foi um grande acerto para a história. Podemos contrapor assim a dureza que é ter aulas no ensino público e o que passa o ensino particular. Dóris, a diretora do Cora Coralina, é uma mulher de fibra, que leva a própria escola aos trancos e barrancos, exemplo de muitos professores e diretores pelo Brasil afora. Em contrapartida, temos Edgar – diretor do Colégio Grupo – a instituição particular, que tem uma visão ainda atrasada, retrógrada e limitada do ensino e é atropelado pelos jovens liderados pela sua própria filha, Lica.
Outro ponto correto da história é não ter vilões (mas tem personagens bastante mesquinhos e que ainda não conseguiram mostrar um equilíbrio, já que todo ser humano é feito de partes boas e partes más). Entre o núcleo jovem, as cinco garotas denotam coisas típicas de adolescentes: impulsos, dúvidas, descobertas, impaciência e rebeldia. Fica a cargo da Benê ser a mais diferente, uma vez que mesmo tratando o autismo, ela nunca estará curada, portanto será um traço que ela sempre terá.
Dentre eles também vemos a perseguição ao diferente, o preconceito, o racismo – que nesta temporada está sendo tratado de uma forma muito mais digna e direta do que na passada que tinha uma protagonista negra que era constantemente humilhada pela vilã branca, que se redime no último capítulo – e a busca pela identidade. Os tipos são mais fiéis aos jovens de hoje, chegando a retratar jovens que abandonaram o estudo para trabalhar, jovens que trabalham enquanto estudam e coisas típicas que acontece o tempo todo.
O elenco, no geral, foi muito bem escolhido. Várias escolhas acertadas, incluindo todas as protagonistas que defendem muito bem suas personagens e faz da amizade entre as cinco garotas algo crível e cheio de sororidade. O grande acerto é, sem dúvidas, de Cao Hamburger, responsável pela temporada deste ano. Ele fez grande promessas e conseguiu cumprir a maioria delas.
Tomara que as tramas que estão chegando sejam mais sobre união do que maldade. Nós precisamos de coisas boas na TV.
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