AUÊ / Barca dos Corações Partidos
No Ato de hoje traz um pouco da companhia Barca dos Corações Partidos que está em cartaz com o espetáculo “AUÊ”. O grupo, produzido pela Sarau Agência de Cultura Brasileira e composto apenas por homens, já tem em seu repertório os musicais aclamados “Gonzagão — A lenda” e “Ópera do malandro”, ambos dirigidos por João Falcão. E recentemente entrou em cena com o espetáculo inusitado “AUÊ”, desta vez assinado pela direção de Duda Maia. Duda traz para o jogo cênico um vigor eletrizante e incansável numa mistura de teatro, dança, circo e muita música.
A linguagem da diretora agradou aos atores da companhia que há tempos namoravam a ideia de uma parceria. “Já existia um desejo grande de sermos dirigidos pela Duda Maia. A sua linguagem física e contemporânea trouxe uma identidade única pra nós, não tinha como não ser a Duda. Óbvio que o estranhamento aconteceu depois de quatro anos debaixo dos olhos de João Falcão, mas a vontade de sair do lugar de conforto foi maior e mais desafiador.”, afirma Adren Alves, um dos integrantes.
Eu bati um papo super especial com a diretora pernambucana Duda Maia que diz que “AUÊ” foi um trabalho que nasceu no osso. Duda fala um pouco do processo de montagem e de suas escolhas cênicas. Leia a entrevista abaixo.
“AUÊ”, o mais recente espetáculo da CIA traz 21 canções autorais e inéditas com arranjos assinados por Alfredo Del-Penho e Beto Lemos e compostas pelos próprios atores da companhia (Adren Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Renato Luciano e Ricca Barros) e por alguns colaboradores externos, como Laila Garin, Vidal Assis, Geraldo Junior e Moyseis Marques. Todos cantam, dançam e tocam instrumentos (saxofone, trompete, bateria, violão de sete cordas, sanfona, entre outros). O espetáculo exalta o amor e, para isso, lança mão de ritmos que celebram a nossa cultura, como samba, ijexá, maracatu, coco e baião. Não poderia ser diferente diante da diversidade cultural encontrada dentro do grupo. São sete atores de diferentes lugares do país passando pelo Rio, por Minas e pelo nordeste. O Brasil fica bem representado em todos os espetáculos da companhia e “AUÊ” dedica seu amor a cada um desses lugares. “Durante o processo nasceram canções para o espetáculo como “Voa Borboleta” de Eduardo Rios. Todas as músicas foram compostas num momento em que o amor estava aflorado, dedicadas para alguma amada em vários lugares deste Brasil e é disto que fala o “AUÊ”: o amor do ponto de vista do homem, com suas particularidades, sensibilidades, feminilidade, virilidade e paixão.”, acrescenta Adrén.
Podemos ver uma plateia eletrizada pela energia dos atores. Com leveza cômica, os personagens contam casos de amor e rejeição, se divertem e brincam com o público numa espécie de catarse quase carnavalesca. Muitas vezes temos vontade de subir no palco e participar da folia. “AUÊ” também apresenta momentos lúdicos e sublimes como a delicada cena de Fabio Enriquez no tecido circense. O elenco sobe ao palco afinado e traz à tona um turbilhão de emoções e belas interpretações, como a de Renato Luciano na canção “Madeixa”.
O grupo está no Teatro FAAP, em São Paulo, até o dia 18 de dezembro e segue se apresentando pelo Brasil afora em 2017. Fiquem ligados!
Entrevista com Duda Maia
Thiago Pach – Como foi o convite para dirigir a CIA Barca dos Corações Partidos? Já havia trabalhado com o grupo antes?
Duda Maia – Comecei a trabalhar com o grupo antes mesmo deles virarem uma companhia. No processo do espetáculo “Gonzagão – A Lenda”, onde fui responsável pela parte corporal. Fazíamos um trabalho físico diário e tivemos a oportunidade de criar uma dinâmica de grupo muito interessante. A partir desse encontro e com a criação da cia, surgiu a vontade de desenvolvermos um trabalho mais profundo a partir do movimento. Com o convite de dirigi-los a partir de músicas autorais, onde eu teria a liberdade de inventar um roteiro, foi possível ir mais fundo na criação através da corporeidade, dessa pesquisa e da investigação das musicas, surgiu “AUÊ”.
TP – O grupo é formado por atores, cantores e instrumentistas e todos atuam, cantam e tocam instrumentos em cena. Como foi o processo de preparação do grupo?
DM – Os atores começaram levantando algumas músicas e se familiarizando com os instrumentos. Quando eu entrei passamos algumas semanas investigando pelo corpo, fazendo um treinamento físico para adquirir mais técnica, realizando um trabalho de improvisação para encontrar um vocabulário para o espetáculo. Foram muitas horas treinando o corpo e trabalhando as músicas. Aos poucos fui propondo imagens e juntando com a música, mas numa busca de distanciar do formal, do personagem, achando o teatro num lugar mais simples, onde o que fosse feito quase não parecesse construído, com uma interpretação que provocasse liberdade, quase como uma brincadeira. Um jogo genuíno. Queria muito montar algo que começasse dentro, costumo dizer que foi um trabalho que nasceu no osso.
TP – “AUÊ” traz uma proposta diferente do que se vê no teatro musical ultimamente: são músicas autorais e um jogo cênico mais livre e criativo onde diversas situações são apresentadas ao público com leveza. Como escolheram as músicas?
DM – Escolhi as músicas a partir de um caráter muito intuitivo e construi um roteiro de afetos, onde, assim como em nossas histórias amorosas, fosse possível passar de um extremo a outro, construindo a partir de um vocabulário claro e que se repete durante o espetáculo, cenas isoladas e diferentes, queria que a cada número musical se visse uma outra coisa, para que cada música fosse uma experiência única.
TP – Quem acompanha seu trabalho, percebe claramente uma forma de criação singular. Em “Gonzagão – A Lenda”, onde foi responsável pela direção de movimento, vemos uma obra que foi construída a partir de um processo criativo bem aberto. Mas nem sempre esse processo é possível. Como diretora, qual a diferença entre trabalhar com uma dramaturgia mais fechada e um tema mais livre como no “AUÊ”?
DM – Então, definitivamente não sou uma diretora de dramaturgias prontas e fechadas, preciso ter a liberdade não só da encenação mas também de como dizer aquilo que é palavra, seja cantada ou não. Quando dirigi o “Clementina, cadê você?”, por exemplo (espetáculo sobre a cantora Clementina de Jesus e que tinha a atriz Ana Carbatti no papel título), quando me entregaram o texto eu disse que era uma linda pesquisa, mas que eu gostaria de a partir do texto fazer o meu roteiro e criar a minha ideia, podendo dessa forma, tirar texto, substituir por imagem e até mesmo encomendar novos textos. Dirigi dois infantis atualmente baseado em livros, “A Gaiola” da Adriana Falcão e “Guerra Dentro da Gente”, os dois com adaptações feitas a partir de um roteiro que escrevi, e muitas vezes nesse roteiro, eu tiro a palavra e invisto no movimento, por não achar, naquele instante a palavra necessária.
TP – O Espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell (direção, música e iluminação) e ao Prêmio Cesgranrio (melhor Espetáculo, direção, direção Musical, figurino e elenco) e é sucesso de crítica. Como tem sido a reação do público ao jogo cênico que “AUÊ” propõe?
DM – O “AUÊ” é o melhor presente da vida. Ensaiamos alguns meses, ali, fechados numa sala, tentando achar esse lugar mais íntimo, próprio, com Beto Lemos e Alfredo Del-Penho achando a cara dos arranjos sem saber onde chegaríamos. Mas muito seguro de que era nosso. A receptividade do público é um alento para a alma. O que mais gosto, é que mesmo com vários elogios ao trabalho, o que vem primeiro é o que o espetáculo faz com quem assiste. Definitivamente as pessoas entram de um jeito e saem de outro, às vezes mais sensíveis, às vezes muito felizes, às vezes com vontade de criar outras coisas, querendo voltar e ver de novo, aprender as músicas. Sentimos o público muito perto, dialogando, fazendo o jogo acontecer, sem fronteiras. Amo muito ser parte disso.
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Em 2017, o grupo segue com a agenda cheia. Em fevereiro estarão com o espetáculo “Gonzagão – A Lenda” em Natal (dias 04 e 05) e em Recife (dias 10, 11 e 12). Além de continuarem com as apresentações de seu repertório, a Barca dos Corações Partidos estreia também um novo espetáculo, desta vez sobre a obra de Ariano Suassuna.
Ainda esse ano, “AUÊ” segue temporada no Teatro FAAP em São Paulo até dia 18 de dezembro.
Por Thiago Pach
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