Os quadrinhos de terror sempre foram um gênero muito apreciado, não somente no Brasil, mas em muitos países e culturas diferentes. Na década de 1950 houve um fenômeno mundial de crescimento desse gênero. No Brasil tínhamos autores célebres que se dedicavam ao terror, seja republicando material estrangeiro, seja produzindo quadrinhos. Nessa linha, certamente o maior destaque foi o desenhista Eugênio Colonnese, que sabia muito bem utilizar as temáticas universais ao mesmo tempo em que adicionava um tempero genuinamente nacional. Além de personagens diversos e histórias arrepiantes, sua principal protagonista foi “Mirza a Mulher Vampiro”.
Nessa época a mitologia que deslumbrava os cinemas e os quadrinhos era a de Drácula. Enxergando potencial nesse tema, Colonnese criou Mirza enquanto trabalhava no Estúdio D-Arte, para ser publicada pela editora Jotaesse, na revista “O Vampiro”.
Mirela Zamanova é a sétima filha de um nobre polonês cuja linhagem foi amaldiçoada. Durante um incidente no qual quase foi estuprada pelo namorado da irmã, a maldição de sua família a transformou em uma vampira. Após a transformação adotou o nome de Mirza e passou a vagar pelas grandes metrópoles do mundo, onde constantemente esbarrava com outros seres sobrenaturais, tanto hostis quanto amigáveis. Quando lhe convém se passa por modelo profissional e é sempre auxiliada por seu criado, o corcunda Brooks. A principal marca das histórias de Mirza é sua sensualidade, ousada em comparação com os padrões de sua época.
O grande diferencial de Mirza para quase todos os vampiros da época, é que ela fugia de alguns padrões estabelecidos. Colonnese tinha o talento necessário para colocar sua personagem em situações atípicas sem descambar para o sarcasmo. Com isso ele conseguia subverter elementos clássicos desse mito, como na cena em que retrata Mirza tomando sol em Ipanema. Essa valorização do corpo e da vaidade é algo tipicamente brasileiro e se encaixou perfeitamente na personagem. Vale destacar ainda que o desenhista de certa forma antecipou esse subgênero nos quadrinhos, já que a famosa “Vampirella”, criada por Forrest J. Ackeman veio dois anos depois de Mirza. Da mesma forma que seu outro personagem, Morto do Pântano, surgiu 5 anos antes do consagrado Monstro do Pântano.
Eugênio Colonnese, filho de mãe brasileira e pai italiano, nasceu em Fuscaldo, província de Consenza, no sul da Itália. Ainda criança veio morar no Brasil e desde cedo já demonstrava seu talento artístico criando histórias, participando de concursos e logo trabalhando em editoras. Após passar uma temporada trabalhando em editoras argentinas na década de 1950, Eugênio retornou ao Brasil e conseguiu uma vaga na EBAL graças ao grande mestre Jaime Cortez. Nesta ocasião publica seu primeiro trabalho, que foi quadrinizar o poema Navio Negreiro, de Castro Alves.
Daí em diante passou a trabalhar em diversas editoras cariocas e paulistas, desenhando romances e centenas de capas. E foi justamente num desses trabalhos para a editora Jotaesse que Colonnese conheceu Rodolfo Zalla e ambos tiveram a ideia de criar uma personagem vampiresca, a qual “nasceu” em 1967. Após algumas publicações da personagem os dois artistas migraram para a área de ilustrações em revistas didáticas, pois o mercado de quadrinhos enfrentava as dificuldades trazidas pelo Comic Code Authority americano.
Somente em 1981 a personagem Mirza foi retomada, graças à dedicação do editor Otacílio D’Assunção (Ota) na revista Spektro. Já em 1982 o desenhista Rodolfo Zalla lança a revista Mestres do Terror através de sua própria editora (D-Arte) e proporciona mais um retorno à Mirza. A saga que apresentou a origem da mulher vampiro segue sendo publicada até meados de 1984. Nos anos seguintes a personagem ainda foi publicada pela Press Editorial, pela Catânea Editora, Escala, Opera Graphica e Mythos.
Apesar das insistentes tentativas em manter títulos de Terror, tanto as dificuldades econômicas da década de 1990 quanto a preferência do público por super heróis estrangeiros acabou afastando a vampira brasileira dos holofotes. Nesse tempo Eugênio Colonnese passou a dar aulas de desenho até falecer em 8 de agosto de 2008 por problemas de saúdes envolvendo um AVC.
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