“Essa é a nossa música”
No mês de Abril, pela Som Livre, será lançado o álbum do grupo carioca de reggae Ponto de Equilíbrio. “Essa é a nossa música” é composto de 14 faixas com direito a participações especiais de grandes nomes como Ivete Sangalo, Emicida, Gabriel o Pensador, Alexandre Carlo, Oriente e Alborosie.
O álbum já está disponível nas plataformas digitais esperando somente para chegar as lojas físicas. O grupo fará, também, uma turnê passando por Belém do Pará (02/04), Belo Horizonte (09/04), Curitiba (20/04), Juiz de Fora (29/04) e São Bernardo do Campo (30/04). Outros estados também estão em seu roteiro, porém as datas ainda não foram divulgadas.
Formado por Helio Bentes (vocal), Pedro ‘Pedrada’ Caetano (baixo), Márcio Sampaio (guitarra), Tiago Caetano (teclado), Lucas Kastrup (bateria) e Marcelo Campos (percussão), o Ponto de Equilibrio já lançou os discos “Reggae a vida com amor” (2004), “Abre a janela” (2007), “Dia após dia lutando” (2010) e “Juntos somos fortes” (2013).
Segue o texto de Marcelo Yuka, falando sobre o projeto:
“Essa É a Nossa Música”, por Marcelo Yuka
Não sei exatamente qual o seu gosto musical, mas se você ainda acha que reggae é uma música toda igual, com uma guitarrinha que se repete do começo ao fim, com algum maluco com o cabelo diferente gritando “oi oi oi”, você está severamente enganado. Esse ritmo, tipicamente jamaicano, fez daquela pequena ilha no Caribe um reflexo não só da cultura local, mas da diáspora africana pelo mundo. O Brasil, com todas as suas matrizes negras, culturais não podia ficar de fora. De uma maneira ou de outra, o reggae como estilo musical começou o seu namoro com o Brasil há uns 40 anos (alguns dizem que o shot já era um tipo de reggae ou que o reggae já era um tipo de shot).Uma das primeiras citações sobre o reggae no Brasil seria da música “Nine out of ten”, do disco Transa, do Caetano Veloso. Mas há evidências de gravações propriamente ditas antes do Caetano Veloso, dessa palavra reggae, no Maranhão, e até mesmo o Movimento Roraimeira – movimento cultural, como o nome diz, vindo de Roraima, nossa capital mais perto do Caribe. Eu não sei dizer. Só sei que depois de tanto tempo e de tantas afinidades rítmicas e sociais, o reggae se estabeleceu no Brasil, não só para um público fiel, mas também por artistas que seguram o seu cajado como proposta principal. É nesse terreno que o Ponto de Equilíbrio cresceu e se estabeleceu.Me lembro da primeira vez que vi os meninos no palco do Circo Voador. Foi uma grata surpresa ter essa banda de Vila Isabel, subúrbio carioca, tocando com propriedade o ritmo jamaicano, com um público que lotava as dependências do lugar, cantando quase todas as músicas com devoção – uma clara referência que as pessoas que estavam ali não precisavam da rádio para construir tamanha empatia. Era o talento da banda e o espaço que o reggae exigia no país e fazia toda a conexão. Cinco discos depois, a turma de Helinho, Lucas, Marcio, Tiago, Marcelo e Pedrada estão, com certeza, mais ainda estabelecidos não só no cenário do reggae, mas no cenário pop brasileiro. Me salta aos olhos, agora, nesse novo trabalho “Essa é a nossa música”, a coragem e a autonomia da banda em passear por vários estilos diferentes, sem perder a originalidade, nem o vínculo estreito com o reggae de raiz.O disco começa com “Fio da Fé”, um reggae moderno com riff de guitarra distorcido e uma métrica vocal flertando com os DJs e toasters jamaicanos. Depois, damos uma guinada na canção “Nossa Música” com participação do Gabriel o Pensador, uma melodia linda com tendência atual da mistura que o ritmo adota derivado do encontro com hip hop. “Chances”, a terceira faixa, já se desdobra num roots ensolarado que assume de vez a relação da banda com o rastafarianismo. Em seguida, temos “Direitos Iguais”, que agrada e muito aqueles que, assim como eu, são fãs do Reggae Dub. “Estar Com Você”, a faixa seguinte, já cai com uma pegada mais romântica com participação de Ivete Sangalo e é mais uma grande melodia do disco. Perto da metade do disco, tenho que ressaltar a qualidade dos timbres que tem nele, principalmente a cozinha “baixo e bateria” da banda.A oitava faixa, “Vou Me Tacar”, já tem um enfoque mais urbano e eletrônico, o que mostra a versatilidade e a capacidade do vocalista Helinho em passear por várias métricas diferentes. O disco segue com “Fogo e Água”, talvez a faixa mais bombástica. A faixa onze, “A Vida de Um Rastafaman”, conta com participação de Alexandre Carlo, do Natiruts. As duas vozes combinam muito bem e seguem com a pegada rasta e melódica. “Peleja” é outra canção que abre espaço para o hip hop entrar, onde a participação do Oriente dá o tom sem perder a pegada que os fãs da banda já estão acostumados. As duas últimas canções “Etiópia Sagrada” e “Diamante Rubi” propõem, mais uma vez, pelo ponto de vista rastafári, um sossego, uma certeza e uma fé que, independente da crença de cada um, é um aconchego espiritual musicado em gratidão.Minha intenção, quando comecei esse texto, não era falar de tantas canções, mas colocar apenas os meus sentimentos, minha visão, em decorrência do disco, mas confesso que fui capturado pela diversidade dentro do gênero reggae, que a maturidade do Ponto de Equilíbrio impõe. Os garotos cresceram e se fortaleceram não só na autenticidade, para defender o reggae, mas na coragem de passar com tanta autonomia pelas mais diversas nuances de gênero. O Ponto agora é do Equilíbrio que a música pop brasileira contemporânea de origem jamaicana tem para se alicerçar, no coração desse país complexo e multifacetado, ainda se definindo, numa democracia religiosa, racial e política. Depois de tanto tempo, fico feliz por ser e perceber que o reggae, em sua essência seja como for, ainda carrega os mesmos compromissos dos seus mentores, sem temer a época, os conflitos e as possibilidades urgente dos dias de hoje. Valeu, Ponto. Obrigado pelo compromisso.
Você pode conferir o álbum nesse link: NossaMusica
Aimée Borges gosta de dançar ao vento, beber água gelada e sorrir para Lua. Apaixonada por contos e fadas, deixa-se levar por sua curiosidade que a transporta para um mundo ainda mais louco que o da Alice.
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