No Caminho mostra que o amor pode surgir mesmo em ambientes violentos
Narrativas envolvendo cartéis de drogas são recorrentes no cinema mexicano — o que não surpreende, considerando a gravidade do problema na sociedade daquele país. A arte, afinal, tem o papel de refletir e discutir tais questões, assim como ocorre no Brasil ao abordar a violência, seja ela de natureza social ou vinculada à repressão da ditadura militar. O novo longa “No Caminho” utiliza essa criminalidade como pano de fundo, mas seu foco principal é o romance homoafetivo entre o caminhoneiro rústico Muñeco (Osvaldo Sanchez) e o jovem Veneno (Victor Pietro Simenral), que está em fuga com drogas roubadas de um poderoso líder do tráfico.

A relação entre os dois protagonistas é desenvolvida de maneira fluida e natural pelo roteiro. Inicia-se com uma carona, evolui para uma parceria comercial — envolvendo a venda de entorpecentes em paradas de caminhões — transforma-se em amizade e, por fim, desabrocha como uma história de amor. Tudo isso ocorre sob constante ameaça, com criminosos em seu encalço, o que gera tensão e apreensão no espectador, ansioso por descobrir o desfecho do casal.
Em razão da perseguição imposta pelos capangas do tráfico, “No Caminho” apresenta cenas de violência intensa, mas equilibra esse aspecto com a delicadeza de um romance genuíno — embora não ingênuo. As sequências quase explícitas de sexo são encenadas com entrega e intensidade pelos atores, revelando o desejo latente entre os personagens. O calor do deserto por onde transitam e a paleta quente da fotografia contribuem para compor imagens poéticas dos corpos em movimento dentro da apertada boleia do caminhão.

Dirigido por David Pablos, o filme é, essencialmente, uma história de amor ameaçada pela brutalidade, e transmite uma mensagem comovente ao evidenciar que, mesmo em ambientes hostis como o submundo do crime, há espaço para vínculos de afeto, companheirismo e ternura.
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Vale ressaltar que, embora “No Caminho” dialogue diretamente com o público LGBTQIA+ — que certamente será tocado pela história —, suas mensagens são universais. Qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade, independentemente da orientação sexual, poderá se identificar com o casal e torcer por sua sobrevivência, enquanto contempla as paisagens áridas e cinematográficas dignas de um autêntico road movie.
Para quem não conseguiu assistir ao filme durante a Mostra, será necessário aguardar um pouco mais para vê-lo nos cinemas, já que, até o momento da redação deste texto, não havia informações confirmadas sobre sua distribuição ou data de estreia no Brasil.
Este filme foi exibido durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Vídeo: Divulgação/MappealTv

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