O filme Ninfomaníaca, de Lars Von Trier, não fala sobre sexo ou pornografia. É a história de uma moça que é encontrada por um senhor caída no chão toda machucada e levada para sua casa, onde se inicia um certo laço de afeto, quando esta moça conta relatos de sua vida desde a infância, sempre envolvendo casos sexuais bastante sofridos. Para alguns, repetindo, pode ser sim um filme explícito de cenas pornográficas, onde irão mexer com a libido, enquanto para outros o funciona como o enredo de uma mulher marcada pela relação confusa com a mãe e o conflituoso embate com o próprio corpo, bastante desorganizada, na busca de sentir prazer e um pouco de afeto. Ela até faz uma pequena tentativa, de se envolver amorosamente com o homem que tenta construir uma relação e tem um filho, mas não sustenta a relação pela anorgasmia, se entregando ao sadismo.
De acordo com a teoria reichiana, a não satisfação sexual leva os indivíduos a bloquearem a circulação energética pelo corpo diminuindo com isso a potência orgástica, que para Reich está relacionada diretamente com a capacidade de amar do indivíduo.
Percebo esse pensamento do Reich em muitas cenas do filme, mas eu prefiro fazer referência no momento que a personagem deixa o filho pequeno em casa para a sua prática sádica, simbolizando o desafeto por si e uma relação de abandono com o filho, pois teve esta mesma relação destrutiva com a mãe.
Essa capacidade de amar do indivíduo pode se concretizar em ações patológicas. A personagem seguiu fazendo escolhas doentias, frequentou um grupo para mulheres na sua mesma situação, mas preferiu seguir com a sua estrutura emocional e se envolveu no crime.
Podemos viver experiências bastante traumáticas na infância e desenvolvermos uma relação ruim com o nosso corpo. Somos um corpo pulsante, somos constituídos por energias que circulam em nosso corpo e temos as nossas potências. Esse processo pode ser negativo para alguns e essa potência se transforma numa grande impotência, ter emoções patologizadas, impedindo o indivíduo viver uma vida social e criar laços afetivos.
Lars Von Trier foi incrível e explicitou estruturas patologizadas com bastante coragem, abordando um assunto que causa muitos julgamentos e vergonha. É preciso falar sobre a ninfomania, é preciso falar sobre as nossas pulsões.
Por Marina Andrade
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