Em “O Contato”, navegamos pelo Rio Negro transitando entre diferentes aldeias
Hoje, o Brasil enfrenta uma das piores crises humanitárias do planeta. O extermínio dos povos originários que ocorre diariamente no norte do país se demonstra incontrolável, e ocorre de forma velada, perdendo espaço para discussão na grande mídia. Ameaçados por garimpeiros e o crime organizado, muitas das famílias e etnias perderam parte do seu contigente, e no processo de colonização, perderam também parte de sua identidade como povo. E em “O Contato”, documentário de Vicente Ferraz, mergulhamos a fundo na realidade de 3 famílias que vivem suas histórias dentro desse contexto.
Situados na região da cabeça do cachorro, onde co-existem 23 etnias e 18 idiomas, integrantes das tribos Arapaso, Hupda e Yanomami atravessam os rios da região migrando entre a cidade de São Gabriel da Cachoeira e suas casas. No processo, nos é revelado os dilemas pessoais dos personagens e os dilemas dos povos. Enquanto uma mãe, professora e indígena, se desdobra entre o trabalho e os cuidados com a sua filha depressiva, uma avó percebe que seu neto não entende a sua língua. Em contrapartida, um líder enfrenta o passado ao reviver a memória de seu pai através de fotos e filmagens realizados por outros cinegrafistas.
É perceptível a sensação de perda nos três relatos. Um luto constante pela memória que foi substituída por anos de luta e repressão. Em certa parte do documentário, as pessoas mais velhas relatam seu primeiro contato com os homens brancos, e revelam seu medo em nomes como Manduca Albuquerque. Sua religião foi afetada, seus modos de vida deturpados e sua vida foi ameaçada. Os sobreviventes questionam o que sobrou e lutam para manter a integridade de suas culturas.
Jogando luz nas lutas individuais desses personagens, podemos entender o impacto causado pela colonização e o imperialismo na cultura dessas etnias
O grande mérito do documentário se encontra na forma intimista que o cineasta encontrou para registrar o contexto desses povos. Falado inteiramente em suas línguas nativas, com muita pouca inserção do português, mergulhamos de cabeça no emaranhado de suas vidas e navegamos junto deles pelos rios da região. A fotografia belíssima faz, também, o excelente trabalho de traduzir o sentimento dessas personagens. Desde o afastamento de si com o espaço, até ao de pertencimento àquele local.
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A montagem brilhantemente pensada mantém o público investido nos relatos e sempre renova a sua narrativa. E o que temos como resultado é um documentário belíssimo, que não perde força em nenhum momento nas suas curtas uma hora e vinte. O apelo que fica é para que assistam esse longa, que é de suma importância para a história do Brasil. Entendam a dor e a luta dos povos originários.
Imagem Destacada: Divulgação/Pipa Pictures
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