Aparentemente, os vilões da Disney se tornaram cada vez mais raros
A Disney nos acostumou a amar seu vilões. Mas, de figuras marcantes, os mesmos passaram a ocupar o cargo de coadjuvantes, com pouco brilho nas novas produções. Será que a Disney desaprendeu a fazer seus vilões? A resposta não é tão simples e passa pelo público e as mudanças na sociedade no decorrer dos anos.
Cruella, Scar, Ades, a Madrasta, Malévola e muitos outros vilões marcaram gerações. Apesar de motivações menos trabalhadas e serem seres menos humanizados, esses personagens possuíam carisma, mesmo na maldade. Com isso, apesar do público de não torcer por suas vitórias, ficavam instigados por suas tramas. O papel do mal é do bem sempre demarcado, o dualismo menos reflexivo imperava nesses personagens.
Então, assim como Carminha ou Paola Bracho que fazem e fizeram sucesso em novelas com suas malvadezas, os vilões também vendiam os filmes da Disney dos quais eram parte. Mas, a medida que cresceu-se uma necessidade de narrativas que se encaixassem mais nas mudanças da sociedade, os vilões perderam papel de destaque e tornaram-se seres mais humanizados, com seus dramas e razões própria, porém menos interessante para o público. E, por muitas vezes, sem importância ou inexistentes na narrativa.
Há de se compreender também que muitos fatores que chegaram nessas mudanças são realmente relevantes e desconstroem preconceitos enraizados na sociedade, que acabavam reforçados através dos vilões.
Para esclarecer isso, reunimos abaixo alguns pontos de mudança abaixo. Desde mudanças que descontroem preconceitos, a mudanças que humanizam os personagem em busca de histórias que entreguem mensagens.
Padrões de beleza
O audiovisual no geral se tornou um espelho para como as pessoas se veem. Então, se voltarmos a um passado recente percebemos que as princesas e mocinhas eram retratadas como mulheres brancas, de pele lisa, nariz pequeno, olhos claros, cabelos lisos e corpo esbelto. Enquanto as vilãs, fugiam de qualquer “padrão de beleza” socialmente decretado, sendo retratadas muitas vezes como mulheres gordas, desleixadas, com narizes grandes, etc.
Tendo em vista que esses filmes eram direcionados as crianças, isso reforçava mais que um padrão estético e implicava a esses “padrões de beleza” o significado do bom, e do mal.
Com a discussão levantada sobre esses fatores estéticos, os vilões começaram a ser desconstruídos, atendendo as exigências sociais, que já não admitiam mais tais estereótipos.
Um exemplo mais recente dessa desconstrução ou de uma crítica ao que o cinema foi por anos, é o filme “Barbie”, que escancara estereótipos em tom crítico.
O passado do vilão
Como trazer um personagem que tem tanto destaque no filme, mas sem individualizar suas dores e suas motivações. Por muito tempo os vilões eram maus sem uma explicação elaborada, a gente lia nas entrelinhas o porque deles serem assim. Na maior parte das vezes, se tratava de vingança, inveja ou desejo de poder. Com arcos rasos.
A partir do momento que o público passou a se exigir mais desses personagens, os filmes começaram a “perder” um espaço contando o arco dos mesmos. Mas muitas vezes humaniza-los, tornava eles menos perigosos e assim, menos interessantes.
Com isso, para as estórias, passou a ser mais interessante diminuir o espaço do vilão, deixando como uma parte esquecível na trama, vide “Frozen” ou simplesmente apaga-lo da trama, com filmes que contam a saga dos protagonistas em seus dilemas. Desse modo, o protagonista passa a ser carregado por seus próprios dramas sem um antagonista especifico, como “Divertidamente” e a própria sequência de “Frozen”.
A humanização do vilão
Para falar do passado do vilão é necessário humaniza-lo. Se formos por um caminho psicológico, os filmes da época de ouro da Disney nos fizeram amar psicopatas. E ainda os cultuamos por serem carismaticos.
O mau era atrativo, mesmo que a gente não torcesse por ele. A final, quem não gosta das tiradas do Scar. Mas lembre-se, ele matou o próprio irmão e tentou matar o sobrinho. Pensar que uma trama assim foi construída para crianças é impensável hoje.
Quando a Disney entrega um passado ao vilão, constrói sua história mostrando que ele nem sempre foi assim e dá ao mesmo a possibilidade de mudança ou uma motivação, isso torna mais humano e passa uma mensagem mais construtiva para a nova geração. Podendo ser uma mensagem de mudança. Ou que o mal não compensa e que o bem pode ser melhor. Até mesmo uma mensagem de perdão.
A Pixar criou um novo padrão
Desde o início a Pixar desenhou seus filmes como histórias que entregam mensagens. Ao contrário da Disney, a Pixar não criava estória novelísticas onde o vilão é um ser útil para atrapalhar o mocinho com suas maldades, mas parece não ter vida própria. Com isso, mostrou que estórias com mensagens e lições também vendiam se fossem bem feitas.
Desse modo, a Disney começou a trabalhar em seus filmes o que já fazia em sua parceria de sucesso com a Pixar, trazendo mais conflitos internos dos seus personagens e menos conflitos entre vilões e mocinhos.
A nova geração talvez não esteja incomodada, nos que somos velhos nostálgicos
Uma geração que cresceu com um tipo de trama, realmente vai se sentir menos atraída com as mudanças. Porém, a quem os estúdios buscam quando constroem essas novas estórias. Claramente que não somos nós, adultos que reclamamos de não termos mais vilões.
A verdade é que para a nova geração as animações ainda são cativantes e eles já cresceram habituados a esse tipo de narrativa. É impossível também pensar que se manterá assim, que as narrativas não irão mudar mais e mais futuramente. Faz parte do processo e de suas épocas. Mas ainda irão existir grandes vilões, vide o lobo em “Gato de Botas 2”, ainda que este não seja da Disney.
O cinema, vai sempre refletir a sociedade em que é feito. Para o bem ou para o mal, vilões e mocinhos, são parte dessa engrenagem.
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