Álbum mistura brasilidades com house do outro lado do atlântico, pop, e melancolia otimista
Lançado há duas semanas, o projeto visual “O Apelo”, é o segundo álbum de estúdio do cantor maranhense Paolo Ravley, com estilo e identidade de cidadão do mundo. Depois da euforia vem a introspecção, o que não há de significar um fechar-se para o que há lá fora. Confira nosso review do trabalho do artista, que se apresentou este sábado no Cine Joia.
Imaginando cometas
O que fazer quando dizer já não é mais suficiente? Viver na pós-modernidade é também lidar com o peso do acúmulo de milênios de significados se sobrepondo, de discursos se digladiando até se esvaziarem — amplificado por uma profusão de informações a disposição. Nada mais choca, nem é relevante.
Nesse sentido, fazer arte é um desafio que sempre volta à tona, mesmo quando não dito com todas as letras. É preciso se destacar, fazer algo diferente, mas ao mesmo tempo isso não é garantia de sucesso — e os números provam que a inventividade está longe de ser algo premiado pela indústria do entretenimento.
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Talvez como uma autorresposta a seu primeiro trabalho em formato longo, Paolo Ravley volta mais amadurecido com seu recém-lançado álbum “O Apelo”, três anos após “Mundos“ (2021). Maranhense, mas com quinze anos de vivência em Paris, não é o clichê de produções mais recentes serem “mais pessoais” que dá conta de descrever o engenho por detrás do resultado final.
Mais melancólico e pé no chão, bem como menos baladeiro — passada a euforia das letras compostas durante o período de claustro — o álbum assume com naturalidade o sentimento de não pertencimento que Paolo parece dominar, e aqui evidentemente se sente mais confortável, sem que isso signifique estar na zona de mesmice.
A faixa título abre o álbum e sintetiza um pouco da narrativa que o artista pretende apresentar, mas não é senão em “Shangai”, faixa dois, que isso fica mais claro. Se faixas do meio passam pelo menos na média, a dizer “Zum Zum Zum” e “Ar”, é aqui que o
Letras bilíngue podem ter se tornado lugar comum na música pop latina, para não mencionar de quando a adição de um ou mais idiomas torna a composição pedante e carregada, então tomar as rédeas e confiar na própria arte não é algo que todo artista tem o melhor feeling; Ravley faz isso excelentemente bem aqui, menos em “Dímelo”, mas ainda com inteligência.
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Com influências sonoras blatantes do pop francófono que refazem a história do cantor, a ponte do francês ao português é tão natural como divertida, e continua em outras faixas, como “Vai Com Deus”, mais ao final — pode haver algo de muito brasileiro, ou europeu, em uma faixa, e você não precisamente saiba apontar o quê, mas esse bom lugar de estranheza só existe pela recontextualização de algo antigo em um novo e não óbvio lugar.
Com cerca de meia hora de duração, e que passa muito depressa, a transição entre as faixas é sutil, mas não monotom. O encerramento do álbum com “Agora Bateu” é abrupto e, embora faça sentido, deixa uma desconfiança de que tem algo ali faltando. Talvez uma versão deluxe complete essas lacunas, como fizera com seu álbum anterior, então por enquanto resta dizer que, em retrospecto, o resultado é positivo — e vale o nosso play para as descobertas da semana.
Imagem Destacada: Reprodução/Paolo Ravley (Via: Site Oficial | Crédito: JrFranch)
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