Vamos criar aqui uma situação hipotética. Mas beeeeem hipotética mesmo… você é um funcionário frustrado de um banco que não lhe dar o menor valor. Sua mulher tem um humor peculiar, e quando há divergências entre vocês, você apanha. Sua paixão da juventude morre em um trágico acidente de avião na Baía de Guanabara e seu melhor amigo, prevê todo o acidente.
Você é um ser sem expectativas. Não tem vontade de voltar para casa e muito menos permanecer no trabalho. Está em uma espécie de limbo existencial. Faz terapia para amenizar o quão ruim é a sua vida. A esperança, que é sempre a última que morre, está enterrada à sete palmos debaixo da terra. Você não é ninguém.
Trágico, não?!
Pois esse foi um dos livros mais engraçados que eu já li na vida.
Seguindo com nossa linha de hipóteses, imagine a seguinte situação: você está tentando se distrair no computador quando de repente recebe um e-mail de nada mais, nada menos; sua paixonite juvenil recém encarnada. O endereço de remetente vem direto do purgatório. Mas quando você conta isso para alguém, ninguém acredita.
Então?!
Mario Prata, em sua genialidade sem limites, faz uma paródia do clássico “A divina comédia” de Dante Alighieri. E a maneira como a narrativa se dá é simplesmente fantástica. Sério, eu não tenho outra palavra para definir. O livro descreve com riqueza de detalhes o que é o céu, o inferno e o purgatório. E nenhum deles é o que você pensa que é. Desconstrução, palavra que está na moda, é o que acontece o tempo todo na obra.
A dualidade como tudo é retratado também é bem peculiar. Em A divina comédia, nós temos um reconto dividido em trinta e quatro cantos (que é quando a poesia é muito longa), ou seja, temos uma composição toda feita em versos. O que confesso, não é muito a minha praia.
Já em Purgatório, Prata escreve tudo em trinta e nove capítulos narrados em prosa. O que faz com que sua narrativa seja bem mais dinâmica. Lembro que quando li a primeira vez (li quatro vezes, na verdade), eu ficava criando as vozes dos personagens na minha cabeça. E passava um pouco de vergonha quando lia na rua. Eu simplesmente não parava de rir.
Com relação aos personagens, Mario Prata manteve os nomes que eles tinham na obra de Alighieri, mas criou personalidades completamente divergentes. Não eram almas afins, ainda que tivessem caminhos semelhantes.
O Dante de “A divina comédia” era o oposto do Dante criado por Prata. Enquanto naquela obra ele enfrenta os nove círculos do Infernos com maestria – ainda que também com muitas provações – nesta, Dante é um Zé Ninguém. Lá, Virgílio é o poeta romano que guia ida de Dante para o Inferno; aqui, Virgílio é o melhor amigo, gay, espalhafatoso e que faz a vida de seu companheiro ter um pouco mais de colorido.
Do dualismo, bem, temos um Dante Alighieri repleto ambientações classicistas, onde encontramos desde o antigo testamento aos heróis romanos. Onde a tríplice trindade é relatada e as alegorias acabam deixando tudo atemporal. Em contrapartida, Mario Prata traz um Rio de Janeiro real. Em uma história nem tão real assim. Você, carioca, vai achar o máximo quando encontrar nomes de ruas pelas quais você já passou descritas ali. Acredito que isso aproxima autor e leitor.
É um livro feliz!
É um livro que deixa quem o está lendo feliz!
É um livro onde Leonardo Da Vinci é só Da Vinci, e está no purgatório porque o céu era entediante demais.
Dica do dia: para você que reclamou que 2016 foi um ano pesado, leia Purgatório: A verdadeira história de Dante e Beatriz. Se são sorrisos que sua vida precisa, então são sorrisos que essa obra magnifica vai te dar.
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