Em 21 de maio de 1964, um mês e meio depois do Golpe de 64, eis que surge de forma ousada, a revista PIF PAF, uma publicação de crítica e resistência camuflada com um humor inteligente e incontestável de grandes escritores, cartunista e humorista, dentre eles: Janio de Freitas, Claudius, Ziraldo, Jaguar, Eliana Caruso, encabeçados, é claro, por nada mais, nada menos, que Millôr Fernandes.
Por ser uma revista independente e de cunho crítico, causou desconfortos no mundo da política, e, por ser símbolo de resistência, resistiu o quanto pode, terminando brevemente em sua oitava edição, que trazia uma pequena “advertência” sobre seu futuro: “Se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.
De publicação quinzenal, com muito custo, durou quatro meses, mas o suficiente para fazer história. Já em sua primeira edição apresentava uma espécie de paródia aos 10 Mandamentos, onde criticava a democracia, o comunismo, a esquerda, a direita, a torcida do Vasco e do Flamengo e até mesmo o próprio humor, mostrando para que veio e que não deixaria incólume nada e nem ninguém.
O que chama mais atenção é seu caráter feminista, por assim dizer, que predomina em todas as edições, onde até a música “Amélia” foi criticada na seção “Canções Brasileira Ilustradas”, além da forma de apresentar a mulher, em suas vestes, afazeres, ao retratar o uso do monoquine, o brincar com fotos de streap tease e usar de bastante humor os estereótipos machistas predominantes na época…
“Mulheres naquela altura eram muito valorizadas. E o Pif Paf mostrou isso. Mostrando-as. Valorizadas mas não em todas as partes. Ou, o que dá no mesmo, em todas as partes.” (Janio de Freitas)
A segunda edição é inclusive “interativa”, já que trazia em sua capa e ante capa o “Jogo da Democracia”, em que os jogadores poderiam se dividir em “Time da Direita” e “Time da Esquerda”, não havendo outra opção. Mas infelizmente os humorista não ficaram impunes e acabaram sofrendo, já logo nesta publicação, com a prisão de Claudius pelo DOPS – Departamento de Ordem Política e Social (órgão do Governo de repressão), e o editorial veio com um sarcástico agradecimento: “Obrigado à DOPS, que afinal, também se lembrou de nós (…)”, e prometia na quarta revista, a história do “primeiro humorista-mártir”.
A diagramação, o formato, as ilustrações e principalmente a fotografia, são de um modernismo e criatividade que ainda hoje causam inveja em qualquer revista. Não existia ainda os programas de edição de fotos, mas eles já brincavam com fotografias, como é o caso do “Concurso Miss Alvorada 1965” e suas montagens com rostos de políticos em corpos de modelos.
Falar (ou escrever) sobre esta breve coleção PIF PAF será sempre pouco, pois ela pode ser usada para estudar nossa história, a comunicação, o jornalismo, a publicidade, a fotografia, a ilustração, a economia, o mundo, o país, mas sobretudo, nossa política. Não é à toa que em sua oitava e última publicação, trazia em si um “poeminha de dúvida”, intitulado como “Saudação aos que vão ficar”, que questionava:
“Como será o Brasil no ano 2000? (…)
Haverá mais lágrimas ou mais sorrisos? (…)
E o que será loucura e o que será juízo? (…)
Haverá realmente o ano 2000?”
Bom, e pra quem ficou curioso é possível desfrutar destas edições através da publicação de aniversário de 40 anos da revista, reeditado em 2005 em formato fac-símile com todas as oito edições. É difícil de encontrar, mas pode ter certeza que em algum sebo esta coleção está escondida!
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