Mesmo sem repertório gabaritado de hits, Camila Cabello soube segurar a plateia até o fim

Poucas artistas do pop internacional cultivaram uma relação tão estreita com o Brasil quanto Camila Cabello, e isso antes do brazilian boom que temos vivido nos últimos tempos. Desde os tempos de Fifth Harmony, quando ainda dividia os holofotes em um dos maiores grupos femininos da década de 2010, a cantora já percebia o entusiasmo quase incondicional dos fãs brasileiros. Mas foi a partir de sua carreira solo que essa ligação ganhou novas camadas: lançada em 2018 com o álbum “Camila”, ela explodiu no cenário global com “Havana”, faixa que se tornou um dos maiores hits daquele ano e consolidou sua imagem como um dos nomes mais promissores do pop.

A ascensão rápida foi seguida por colaborações de grande impacto, como “Señorita” (2019), parceria com o então namorado Shawn Mendes e que dominou paradas em diversos países. Ao mesmo tempo, Camila buscava se afirmar como artista com identidade própria, alternando entre baladas românticas e experimentações sonoras que dialogavam com suas raízes latinas. O álbum Familia (2022), por exemplo, reforçou essa vertente, mergulhando em uma mistura de salsa, reggaeton e pop contemporâneo.

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Ainda assim, a cantora vive hoje um momento de reposicionamento. Seu disco mais recente, C,XOXO (2024), produzido por El Guincho, arriscou-se no terreno do hyperpop — uma aposta ousada que dividiu a crítica e afastou parte do público que ainda associa Camila Cabello a um pop mais tradicional. Não à toa, sua participação no The Town 2025, em São Paulo, vinha carregada de expectativas: seria a oportunidade de reafirmar sua força no palco e de renovar os votos com uma das plateias mais apaixonadas por sua música.

Na ocasião, Cabello fez questão de mostrar que está disposta a se reconectar com os fãs brasileiros. Sua entrada já deu o tom da noite: ao som de “Shameless”, remixada com o funk “Tubarão, te amo”, ela arrancou gritos da plateia. Essa tentativa de aproximar sua performance da energia local foi uma constante, e não apenas nos momentos em que brincava com o público repetindo a palavra “gostosa”, mas também na própria musicalidade de seu repertório.

O setlist foi construído para destacar justamente esse lado mais latino e dançante de Camila Cabello. Faixas como “Bam Bam”, “Don’t Go Yet” e “Quiet”, do álbum Familia (2022), mostraram a fusão de ritmos que vem marcando sua carreira, enquanto hits como “Havana” e “Señorita” garantiram a catarse coletiva. As novidades também tiveram espaço: I Luv It, do álbum C,XOXO, trouxe a faceta mais experimental da cantora, abraçando o hyperpop com energia caótica e divertida, no entanto, ao contrário de Katy Perry, que se apresentou horas mais tarde, a cubana não deixou a peteca cair, e engajou o público até nas novas canções.

Um dos momentos mais especiais veio quando Camila Cabello disse que queria preparar algo único para seus fãs no Brasil, lembrando o quanto se sente “muito brasileira”. Ela já vinha arriscando o português ao longo da noite — resultado, já íamos brincar sobre suas lições no Duolingo —, mas a surpresa ficou por conta de um cover de “Ai Se Eu Te Pego”, clássico de Michel Teló estouradíssimo fora do Brasil. Só voz e violão, em um registro intimista que, para além da ironia, conseguiu unir gerações no público. Muitas famílias acompanhavam os filhos no festival, e os mais velhos cantaram junto com entusiasmo, provando que a conexão foi além do pop internacional.

Confira a setlist

1. Shameless (remix com “Tubarão te amo”)
2. Liar
3. baby pink
4. HE KNOWS
5. DADE COUNTY DREAMING

Act II:
6. Bad Kind of Butterflies
7. Never Be the Same
8. Chanel No.5
9. Quiet
10. Used to This
11. My Oh My
12. DREAM-GIRLS
13. Señorita
14. Bam Bam

Act III:
15. B.O.A.T. (piano)
16. Ai se eu te pego (cover Michel Teló)
17. Bad Things (Machine Gun Kelly cover)
18. JUNE GLOOM

Act IV:
19. Move (Remix)
20. Havana
21. Don’t Go Yet
22. I LUV IT

_{Imagem Destacada: Divulgação/The Town 2025 (Moriva/Fabi Cintra)}