Musical “Tick, Tick… Boom!” arrastou plateias na Broadway e ganhou filme em 2021
“Tick, Tick… Boom” é um musical autobiográfico que narra a vida de Jonathan Larson, compositor e escritor de ‘Rent’, uma das maiores obras-primas da Broadway. Com uma encenação intimista e ao mesmo tempo pulsante, a montagem brasileira, em cartaz no Teatro Solar de Botafogo, transforma essa trajetória em uma celebração intensa da paixão e da urgência criativa de Larson, captando com sensibilidade a angústia e o brilho de um artista diante da incerteza do futuro, equilibrando emoção e excelência musical de forma envolvente.
A peça narra a trajetória de Jon, um jovem compositor que trabalha como garçom em Nova York enquanto sonha em escrever o musical que irá mudar sua vida. Prestes a completar 30 anos e à beira de uma apresentação decisiva de sua obra, ele se vê pressionado por todos os lados: sua namorada, Susan, deseja uma vida fora da cidade; seu melhor amigo, Michael, opta pela segurança de um emprego corporativo; e o próprio Jon enfrenta a dúvida sobre se vale a pena continuar lutando pelo sonho artístico diante de tantas incertezas.
LEIA MAIS
República Lee — Um Musical ao Som de Rita | Um Tributo Cinematográfico em Forma de Peça
Djavan, o Musical: Vidas Pra Contar | Técnica e Conteúdo em um Espetáculo Memorável
Ao levar ao palco tensões universais — entre estabilidade e risco, amor e ambição, tempo e legado — a produção brasileira não apenas homenageia a memória de Larson, mas oferece ao público uma experiência profundamente humana, que ultrapassa as fronteiras do teatro musical. Para quem persegue a realização de seus sonhos, é quase impossível não se reconhecer nas angústias e esperanças de Jon, que ecoam como um espelho das próprias incertezas.
O trabalho de direção de Luiza Lewicki, Julia Varga e Marcela Pires merece destaque pela forma como conduz a narrativa com clareza, intensidade e sensibilidade. O trio de diretoras imprime uma marca de coesão à montagem, equilibrando os momentos de maior carga dramática com a fluidez das passagens musicais, sempre a serviço da emoção central da obra. É notável como conseguem extrair do elenco interpretações viscerais, dando ao espetáculo uma força cênica que prende a atenção do início ao fim. A direção, aqui, atua como fio invisível que costura cada elemento do espetáculo, resultando em uma experiência coesa, envolvente e de grande potência cênica.

Matheus Boa, no papel de Jon, entrega uma performance intensa e comovente, captando cada nuance da angústia criativa e da urgência que movem o personagem, sem perder a vulnerabilidade que o torna tão humano. Sua força interpretativa impressiona, sustentando momentos de grande energia e também de delicadeza emocional.
Camille Dutra, como Susan, constrói uma presença firme e envolvente, transmitindo com clareza os dilemas de quem deseja conciliar amor e escolhas pessoais. Sua interpretação vocal se destaca pela sensibilidade e pelo refinamento, conferindo lirismo às músicas que interpreta.
Pedro Balu, que assumiu o papel de Michael na sessão acompanhada, mostrou domínio de cena e carisma, construindo com intensidade o amigo que opta pela segurança financeira. Sua voz segura e expressiva reforça o peso emocional do personagem, especialmente nos momentos em que revela suas fragilidades. É dele também a responsabilidade pelo momento mais emotivo do espetáculo, em uma inesperada virada na trama, que amplia ainda mais a força dramática de sua interpretação.
Vale ressaltar ainda que tanto Camille Dutra quanto Pedro Balu se desdobram em personagens secundários ao longo do espetáculo, demonstrando versatilidade e habilidade para transitar entre diferentes registros com naturalidade. Essa entrega coletiva resulta em uma dinâmica envolvente, que sustenta a força dramática da narrativa e dá vida às tensões centrais da trama.
A direção musical de Caio Loureiro se destaca pela precisão e sensibilidade, conduzindo com maestria a narrativa sonora do espetáculo. A montagem conta com uma banda ao vivo composta por quatro músicos: Thalyson Rodrigues ao piano, André Barros (alternando sessões com André Poyart) na guitarra, Diogenes de Souza no baixo e Naife Simões na bateria. Juntos, eles criam uma sonoridade vibrante e dinâmica que acompanha e intensifica as emoções em cena, reforçando cada virada dramática e dando corpo às canções que marcam a trajetória de Jon. Sob a direção de Loureiro, a música se torna uma força vital do espetáculo, capaz de envolver o público e amplificar a potência dramática de cada momento.
A montagem de Tick, Tick… Boom é valorizada pelo trabalho de cenografia de Pugli, que recria o apartamento simples de Jonathan Larson no Soho, em Nova York, nos anos 90, com destaque para o sofá vermelho central e outros elementos da época, como o computador típico do período, que ajudam a situar a narrativa temporalmente e a construir de forma envolvente o ambiente do compositor.
O figurino e o visagismo de Luana Varga, cotidianos e realistas, reforçam a naturalidade dos personagens e permitem que o público se conecte de maneira direta com suas emoções e conflitos. Complementando a ambientação, o design de luz de Dans Souza delimita os espaços, intensifica momentos dramáticos e guia o olhar da plateia com sutileza, mantendo a proximidade emocional característica da produção.
Esses elementos, integrados de forma harmoniosa, sustentam o clima intimista da montagem e tornam cada cena mais envolvente e próxima do espectador. Tick, Tick… Boom traduz de forma pungente o dilema de quem aposta na arte como caminho de vida: a incerteza constante, a pressão do tempo, a solidão das escolhas e, ao mesmo tempo, a chama que insiste em não se apagar.
Cada canção ressoa como um gesto de perseverança, lembrando que criar é também um ato de coragem diante das limitações impostas pelo mundo real. É essa honestidade brutal, combinada à intensidade da interpretação e ao vigor musical da montagem, que transforma Tick, Tick… Boom em uma experiência catártica, capaz de emocionar profundamente não só aqueles que vivem da arte, mas qualquer espectador que já ousou sonhar alto.
Imagem Destacada: Divulgação/tick, tick, BOOM! Brasil

Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.