Em entrevista emocionada, guitarrista relembra os anos ao lado de Ozzy Osbourne, a amizade fora dos palcos e os bastidores do último show da lenda do heavy metal
Ao longo de décadas de carreira, Ozzy Osbourne, que faleceu aos 76 anos no último dia 22 de julho, sempre esteve cercado por guitarristas excepcionais — Randy Rhoads, Jake E. Lee, Tony Iommi, entre outros. Mas nenhum deles manteve uma relação tão próxima, humana e duradoura com o pai do heavy metal quanto Zakk Wylde. Desde que entrou para a banda em 1987, Wylde não apenas ajudou a moldar uma nova era sonora para Ozzy como se tornou parte de sua família.
“Foi muito além de tocar juntos em uma banda”, diz Wylde em entrevista à Guitar World. “Tenho meu pai, que foi veterano da Segunda Guerra, e depois vem Ozzy — quase como um irmão mais velho. Com ele, havia diversão, bebida, mas também conselhos de vida. Sempre pude contar com ele.”
LEIA MAIS
David Gilmour Revela o Segredo de seu Estilo Inimitável de Tocar Guitarra
Black Sabbath | Tony Iommi Revela Músicas que Ficaram de Fora na Despedida
Zakk construiu sua reputação nos álbuns “No Rest for the Wicked” (1988), “No More Tears” (1991) e “Ozzmosis” (1995), misturando seu estilo visceral com a herança do Black Sabbath. “Sempre disse: eu venero o Sabbath. Tudo o que escrevo tem o DNA do Lorde Iommi. Está no meu sangue.”
Sobre sua entrada na banda após a saída de Jake E. Lee, ele brinca: “Ozzy me escolheu porque eu pegava leve na mostarda Coleman’s quando fazia sanduíches de presunto pra ele! Esquece a guitarra… era tudo sobre os sanduíches!” A química entre os dois foi instantânea, algo que Wylde atribui à afinidade natural: “Leões se atraem. E os hienas… bem, essas se separam naturalmente.”
A naturalidade de criar com Ozzy
Compondo ao lado de Ozzy, Zakk conta que o processo sempre foi fluido: “Era só nós numa sala tocando. A maioria das músicas nascia ali, na hora. Ozzy ouvia um riff e já começava a cantar. Nove em cada dez vezes, o que saía de primeira virava parte da música.” Foi assim com “Miracle Man”, e também com “No More Tears”, onde criaram um diálogo entre voz e guitarra inspirado em “War Pigs”.
Ao longo do tempo, o guitarrista incorporou novas influências em seu som, como Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers e Albert Lee — elementos perceptíveis, por exemplo, na introdução com pedal steel de “Mama, I’m Coming Home” ou nos solos com pegada country em “I Don’t Want to Change the World”.
“O No Rest for the Wicked é metal puro. Já em No More Tears, essas influências começaram a aparecer mais. Mas nunca foi algo planejado. Você vai escrevendo, escrevendo, e chega lá naturalmente.”
A separação e o reencontro
Mesmo nos períodos em que não estava tocando com Ozzy, Wylde manteve-se próximo. “As músicas já estavam prontas e Oz só pedia: ‘Zakk, pode vir gravar isso aqui?’ Eu ia, claro. E entendia quando ele dizia: ‘Zakk saiu do ninho, agora é um cara com sua própria identidade. Não quero ser o vocalista do Black Label Society!’”
Para Zakk, isso nunca foi uma rejeição. “Era um elogio. Ele via que eu já tinha uma identidade forte como compositor, e não queria que isso engolisse o som dele.”
O retorno definitivo veio em 2017, para a turnê No More Tours II. Wylde esteve com Ozzy até o fim: participou de sua introdução no Rock and Roll Hall of Fame em 2024 e, em julho de 2025, o acompanhou em sua última apresentação, em Birmingham — sua cidade natal.
O último show
Zakk descreve aquele dia como caótico, emocional e absolutamente especial. “Era como equilibrar motosserras em cima de um skate. Tínhamos que tocar, cantar, cuidar da voz do Ozzy… tudo ao mesmo tempo. Mas, no fim das contas, era só mais um dia de trabalho com ele.”
Na performance acústica de “Mama, I’m Coming Home”, Wylde teve que se adaptar em tempo real para ajudar Ozzy, cuja voz estava debilitada. “Tive que quase parar de tocar e levantar o violão pra alcançar o microfone e dobrar a voz dele. Foi cômico e tenso ao mesmo tempo.”
Nos bastidores, Zakk preferiu dar espaço ao vocalista. “Sabia que ele estava cansado. Pensei que o veria depois, mas o último contato foi por mensagem: ‘Zakky, estava uma loucura. Não consegui te ver. Obrigado por tudo. Te amo, irmão.’ Isso foi tudo.”
O legado
Ao pensar em sua trajetória e no impacto de Ozzy, Wylde é categórico: “Se não fosse ele, eu estaria tocando do mesmo jeito. Mas ele me deu propósito, como os Beatles deram a ele. Mesmo que eu nunca tivesse tocado com ele, Ozzy acendeu a luz para mim. E isso vai estar comigo pra sempre.”
Imagem Destacada: Divulgação/Instagram (via @panteraofficial/fotografia: @metal__dave)
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.