Como foi a trajetória dos Mamonas Assassinas?
Lançado em 23 de junho de 1995, o álbum “Mamonas Assassinas” marcou a estreia e, tragicamente, a despedida oficial da banda nos estúdios. Com uma mistura explosiva de rock, humor escrachado e referências culturais brasileiras, o disco se transformou rapidamente em um fenômeno de vendas e popularidade. Em apenas seis meses, alcançou a impressionante marca de dois milhões de cópias vendidas, consolidando-se como um dos álbuns mais vendidos da história do Brasil. Nesses trinta anos do début, vamos relembrar a trajetória.
Antes da fama: as raízes como a banda Utopia
Antes de dominar o Brasil com suas letras irreverentes e performances cômicas, os Mamonas Assassinas já vinham trilhando um caminho de dedicação e amizade há anos. Embora tenham estourado nas paradas de sucesso em 1995, a história do grupo começa muito antes, em março de 1989, quando ainda eram conhecidos como Utopia.
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O encontro que deu origem à banda
Tudo teve início em uma empresa de máquinas de escrever, onde Sérgio Reis de Oliveira — mais tarde conhecido como Sérgio Reoli — conheceu Maurício Hinoto. A conexão entre os dois foi imediata quando Maurício soube que Sérgio era baterista. Vendo ali uma oportunidade de juntar talentos, Maurício apresentou Sérgio a seu irmão, Alberto Hinoto, o Bento, que era guitarrista. A afinidade entre os dois músicos foi instantânea, e logo decidiram formar uma banda.
A chegada de Samuel e o nascimento do Utopia
No começo, o irmão de Sérgio, Samuel Reoli, não se interessava muito por música. Mas como alguns ensaios da nova banda ocorriam dentro de sua casa, a convivência acabou despertando sua curiosidade. Pouco tempo depois, Samuel se juntava ao grupo como baixista, fechando o trio inicial. Nascia, então, o Utopia.
Primeiros passos: covers e ensaios
O Utopia era um típico grupo de garagem, com repertório baseado em covers de grandes bandas do rock nacional, como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso. Tocavam em festas, shows de bairro e eventos comunitários, ainda sem a pretensão de se tornarem um fenômeno. Um desses shows, porém, mudaria os rumos da banda.
O encontro com Dinho: uma virada inesperada
Em 1990, durante uma apresentação no Parque Cecap, em Guarulhos (SP), o público pediu para que tocassem “Sweet Child o’ Mine”, do Guns N’ Roses. Nenhum dos membros sabia a letra da música, e a situação parecia desconfortável… até que um jovem da plateia subiu ao palco. Era Alecsander Alves, mais conhecido como Dinho. Mesmo sem saber a letra, Dinho cativou o público com sua espontaneidade e carisma. O que era improviso virou convite: ele seria o novo vocalista do Utopia.
Novas adições à banda
Com a chegada de Dinho, a banda ganhou nova energia. Pouco depois, Márcio Araújo entrou como tecladista. No entanto, por conta da rotina intensa dos estudos, não pôde continuar com o grupo por muito tempo. Ainda assim, é lembrado com carinho como “o sexto Mamonas”.
Quem também viria a somar forças foi Júlio Cesar Barbosa, o Júlio Rasec. Amigo próximo de Dinho, ele se destacou não só como percussionista e tecladista, mas também como o “faz-tudo” da banda — consertava fios, cabos e ajudava nas versões em inglês das músicas.
A transformação: do rock sério ao humor escrachado
Apesar do empenho, o Utopia não engrenava comercialmente. Mas, nos bastidores, algo curioso acontecia: durante os ensaios, os membros faziam paródias e brincadeiras que arrancavam gargalhadas de amigos e familiares. Aos poucos, perceberam que esse lado cômico — natural e espontâneo — tinha mais apelo do que as tentativas de serem uma banda de rock séria.
O nascimento dos Mamonas Assassinas
Foi nesse espírito que, em outubro de 1994, com o apoio dos produtores Rick Bonadio e Rodrigo Castanho, a banda gravou duas faixas que marcariam sua virada: “Mina (Minha Pitchulinha)”, que depois se tornaria “Pelados em Santos”, e “Robocop Gay”. Eram letras debochadas, carregadas de humor e sotaques exagerados, que misturavam crítica social e escracho com melodias grudentas. Estava dado o primeiro passo para algo grande.
Escolha do nome e nova identidade
A mudança de estilo pedia também uma nova identidade. Utopia ficou para trás, e o grupo precisava de um nome à altura de seu novo espírito. As sugestões foram muitas — de Os Cangaceiros de Teu Pai a Coraçõezinhos Apertados — até que o nome Mamonas Assassinas venceu pela irreverência e duplo sentido.
O álbum que mudou tudo
Em abril de 1995, eles assinaram contrato com a gravadora EMI. Um mês depois, embarcaram para Los Angeles, onde gravaram seu primeiro — e infelizmente, único — álbum: Mamonas Assassinas, lançado no dia 23 de junho daquele mesmo ano.
Fenômeno nacional e internacional
Com pouco mais de 30 minutos de duração, o disco foi um sucesso avassalador. Canções como “Vira-Vira”, “Pelados em Santos”, “Bois Don’t Cry” e “Sabão Crá-Crá” dominaram rádios, programas de TV e corações pelo Brasil inteiro. O humor ingênuo e ao mesmo tempo corrosivo, aliado à técnica (eram de fato bons músicos), foi o que transformou os Mamonas em um fenômeno sem precedentes.
Além do Brasil, o grupo também conquistou o público em Portugal, onde o álbum recebeu disco de ouro — um feito raro para uma banda brasileira de humor. Uma ironia, já que a música que catapultou o quinteto à fama era uma piada com os lusos.
Os Mamonas eram onipresentes na mídia, sempre com seus trajes cômicos como fantasias de Chapolin, de super-heróis e até uniforme da tripulação da Enterprise de Star Trek. Na época em que as vendagens eram o que contabilizava o sucesso — já que nem o MP3 existia ainda, muito menos as plataformas de streaming musical —, as aparições na TV também eram um dado relevante para se estabelecer um status pop.
E os rapazes se tornaram presença constante nos programas de auditório, sobretudo os dois mais populares da época: o Domingo Legal do SBT apresentado por Gugu Liberato, e o Domingão do Faustão da Globo, com Fausto Silva à frente. Ingressos vendidos em horas, shows extras marcados e engarrafamentos nas imediações das apresentações, tudo isso era rotina em se falando de Mamonas Assassinas no segundo semestre de 95.
Um Legado na música nacional
Embora a trajetória tenha sido tragicamente interrompida em março de 1996, a energia, o humor e o talento dos Mamonas Assassinas continuam vivos na memória afetiva de milhões de brasileiros. Logo após a tragédia, houve uma leva de nomes que vieram no rastro do besteirol como o palhaço Tiririca, os Virgulóides (do ‘Bagulho no Bumba’), e o Baba Cósmica, a banda de Rafael Ramos, filho do diretor artístico da EMI, que ao ouvir a fita demo implorou para que o pai os contratasse. Em gratidão, os Mamonas gravaram a música ‘Sábado de Sol’, que fazia parte do repertório do Baba, e virou sucesso radiofônico. E tudo começou com um ensaio despretensioso, entre irmãos, em uma casa de Guarulhos.
Imagem: Divulgação/Instagram (via @mamonasassassinas)
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