Estreia na direção da estrela hollywoodiana é simples, mas essencial
Em “A Garota da Vez”, Anna Kendrick, em sua estreia como diretora, revela a trajetória de mais um serial killer norte-americano. Baseando-se em uma história real, ela constroi sua narrativa sem grandes inovações para esse subgênero já amplamente explorado. Contudo, o que realmente importa em sua obra não é o formato, mas sim a mensagem. Evidentemente, sua direção se mantém dentro dos padrões de qualidade estabelecidos para um filme comercial, o que é suficiente para direcionar sua mensagem a uma ampla parcela da sociedade global que trata as mulheres como meros objetos, seja para usar e descartar, como fazem certos programas de TV de namoro que exploram suas imagens, ou para destruir, como faz o assassino Rodney Alcala (Daniel Zovatto), que almeja dominá-las para, em seguida, eliminá-las.
O maior acerto do roteiro de Ian McDonald é não tentar humanizar este monstro. Embora se perceba que Alcala carrega algum trauma do passado, possivelmente relacionado a uma figura feminina, isso não é utilizado para justificar suas ações, o que seria, convenhamos, um absurdo do texto se assim fosse feito. Acertadamente, ele é retratado como aquele que, segundo alguns levantamentos, assassinou mais de cem mulheres após atraí-las sob o pretexto de ser fotógrafo. Uma delas é Sheryl (Kendrick), a garota da vez mencionada no título, que participa do programa televisivo citado anteriormente, no qual deve escolher entre três pretendentes, sendo um deles o próprio assassino.
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Outro ponto importante do enredo é que a personagem de Kendrick não é a protagonista de “A Garota da Vez”, já que há a alternância de momentos nos quais ela participa do programa em busca de visibilidade em Hollywood, onde tenta se tornar atriz, com alguns que mostram as histórias das vítimas de Alcala e outros personagens diretamente afetados por seus crimes. Dessa forma, todas as vozes são ouvidas. O espectador, portanto, acompanha o modus operandi do assassino, que comete seus crimes enquanto supostamente trabalha como fotógrafo para renomados jornais, como o Los Angeles Times. A barbaridade de seus atos choca ainda mais quando é revelado que as autoridades da época (o filme se passa na década de 70) ignoravam as diversas denúncias, desconsiderando os relatos de mulheres que o identificavam.
Assim, Kendrick acerta em sua estreia atrás das câmeras ao construir sua narrativa sem sensacionalismos ou exageros. Sua abordagem direta de filmagem é apropriada; afinal, não se trata de um filme policial convencional em que um investigador persegue um serial killer, como se tornou habitual nos últimos anos. Aqui, ao contrário, é apresentado um retrato da época em que um homem, como sempre, subjugou mulheres e permaneceu impune por longos períodos. Portanto, mais do que relatar os crimes, o filme busca chamar a atenção para o processo que se desenrola após suas descobertas. Quantos desses homens ainda existem hoje, vivendo e matando enquanto são encobertos por uma sociedade que os favorece? Difícil dizer, mas uma coisa é certa: as mulheres continuam a sofrer em várias frentes, e parece que nada consegue ajudá-las.
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Talvez, obras como “A Garota da Vez” constituam uma solução, uma vez que podem introduzir a uma forma de arte extremamente popular, como o cinema, um tema que poderia permanecer inexplorado caso os atos de Alcala permanecessem relegados aos arquivos históricos.
Imagem em destaque: Divulgação/Diamond Films Brasil
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