Saoirse Ronan brilha em uma reflexão sobre vício, recuperação e os mistérios das Ilhas Órcades
O filme “The Outrun”, dirigido por Nora Fingscheidt e estrelado por Saoirse Ronan, é uma imersão densa e simbólica nas paisagens remotas das Ilhas Órcades e, ao mesmo tempo, na mente conturbada de uma jovem em busca de redenção. Baseado nas memórias da jornalista Amy Liptrot, o filme nos leva a acompanhar Rona, uma mulher de 29 anos que, após uma década imersa na vida caótica de Londres, retorna à sua terra natal, agora sóbria, mas ainda assombrada por seus fantasmas pessoais.
A trama explora de forma cuidadosa e íntima a experiência do alcoolismo, sem romantismos, e o árduo caminho da reabilitação. Fingscheidt opta por uma narrativa não linear, onde flashbacks guiados pela mudança na cor do cabelo de Rona servem como referência para o espectador acompanhar sua jornada. Essas transições, de azul para loiro e, finalmente, laranja, simbolizam a transformação emocional da personagem.
Um dos maiores trunfos do filme é a atuação de Ronan. Sua interpretação é crua, visceral, carregando o peso emocional do filme nas costas. Quando Rona declara “Eu não consigo ser feliz sóbria”, sentimos a dor, o desespero e acreditamos nela. Ronan entrega uma performance que nos envolve em cada conflito, seja interno ou externo.
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A beleza natural das Ilhas Órcades contrasta com o caos interno de Rona, e a cinematografia deslumbrante nos convida a refletir sobre a fragilidade humana. Em diversos momentos, a música eletrônica cria uma atmosfera interessante ao contrapor paisagens bucólicas com os tormentos internos da personagem. Esses elementos oferecem ao filme uma camada extra de complexidade, tornando-o uma experiência visualmente rica, mas emocionalmente desafiadora.
Contudo, “The Outrun” não é um filme fácil. Sua narrativa fragmentada e a densidade dos temas podem afastar espectadores que esperam por algo mais leve. Além disso, o simbolismo frequente e algumas metáforas explícitas, como a lenda dos “selkies” que dominam o imaginário das Ilhas, podem soar um pouco forçadas, tirando parte do impacto da narrativa.
Mesmo assim, o filme se destaca por sua abordagem honesta e sem exageros sobre o vício, se colocando como um relato significativo e, acima de tudo, humano. É uma história de cura, mas sem os artifícios típicos das narrativas de superação. Fingscheidt não nos dá uma redenção exagerada, mas uma libertação silenciosa e, por isso mesmo, verdadeira.
Por fim, “The Outrun” é um filme poderoso e relevante, que desafia o público a mergulhar profundamente na vida turbulenta de Rona, enquanto ela busca, em meio aos ventos gelados e à vastidão das Ilhas Órcades, a força para se reencontrar.
Esse filme foi assistido durante o Festival do Rio 2024.
Imagem Destacada: Divulgação/Brock Media
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