Quando só a verdade e empatia não são o suficiente
O filme de Ilker Çatak, “A Sala dos Professores”, é o representante alemão concorrente deste ano ao Oscar de Melhor Filme Internacional, ganho no ano passado pelo seu conterrâneo, Nada de Novo no Front.
Como nos últimos 10 anos a Alemanha tem tido representantes nessa categoria, se faz necessário entender como funciona os métodos e critérios dessa seleção cinematográfica, pois tornou-se um modelo de grande qualidade e eficiência.
Sobre o filme, trata-se de um estudo social do microcosmo em uma escola Alemã e das implicações na Era da pós verdade em que se vive, surgido especificamente dos conflitos surgidos na sala dos professores do título.
Com uma séria de furtos na escola, a direção, os funcionários e professores começam a adotar métodos no mínimo questionáveis para na tentativa de resolver essa grave situação: desde convocar representantes de classes, logo crianças, para indicar ou delatar quem estaria ostentando valores os quais se consideram desproporcionais, revistas nas carteiras dos alunos e até interrogatório de suspeitos.
No meio deste cenário, a professora Carla Nowak responsável por uma das salas investigada, começa sua jornada de protestos e tentativa de resolução da situação, que escala para algo insustentável e de proporções imprevisíveis, visto que a pós verdade nada mais é do que a percepção pessoal e sentimental dos envolvidos, não levando em consideração fatos e evidências apresentadas e que interpretação da atriz Leonie Benesch, como a ética e cada vez mais envolvida profissional.
Quanto aos coadjuvantes, cumprem com louvor e eficiência suas funções de antagonistas e agentes das ações e consequências da problemática nesse microcosmo chamado escola, parte da maioria da sociedade mundial.
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Pois embora trate-se com jovens, se revela nesse local o estado das coisas da sociedade que reflete: concordâncias, discordâncias, preconceitos, momento histórico, alianças, conspirações e essa situação traz o peso da influência que pode vir dos professores que muitas vezes, são os avatares dos pais e se não houver cuidado, podem cometer os mesmos erros que ocorrem nos lares dos alunos ou podem escolher como a personagem principal, transcender suas funções, sendo um porto seguro de ideias, tolerância e convivência.
Assim como na vida real, os limites são transpostos quando a evidência sobre a responsabilidade pelos furtos, mesmo polemicamente adquirida e próxima do incontestável, é usada como estopim de uma guerra de narrativas, onde até as crianças são usadas para que se tente vencer somente pelo conflito, não pela verdade nem pela razão.
Um filme maduro, necessário e moderno que traz em um formato de suspense, com câmera momentos de câmera na mão e momentos claustrofóbicos o que hoje em dia, pode transformar um ambiente que deveria ser seguro e de educação, em uma panela pressão social.
Enxuto em sua execução e certeiro em seus temas, parece haver uma falta de contextualização dos personagens em suas vidas fora do convívio escolar.
Mas provavelmente a proposta nem seja saber como aqueles adultos e crianças se comportam em casa e sim em sociedade, que é uma forma de limitar o contexto dos conflitos e trazê-los somente aquele microcosmo social.
Porém, seria interessante saber pelo menos sobre a personagem principal, de onde vem aquele senso de empatia e tamanho compromisso, que embora seja inerente à profissão é a exceção entre os personagens do filme.
Mais um acerto cinematográfico entre outros da Alemanha e do Oscar na seleção deste ano.
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