Seja pelo texto transgressor ou contexto político, alguns espetáculos causaram polêmica entre o fim do século XIX e início do século XX
A história do teatro está repleta de espetáculos que desafiaram as convenções sociais, abordaram temas tabus ou provocaram a ira de grupos religiosos e políticos. Listamos a seguir alguns dos espetáculos que causaram polêmica, encenados entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX:
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Salomé (1891) de Oscar Wilde

A tragédia “Salomé” de Oscar Wilde se inspira no episódio bíblico em que a personagem-título, pede que seu padrasto Herodes Antipas lhe entregue a cabeça de Jokanann (João Batista) numa bandeja de prata, depois de uma sensual apresentação da Dança dos Sete Véus. Tal como retratado na Bíblia, o texto indicava que a montagem teria cenas eróticas e uma representação literal da decapitação de João Batista. O texto recebeu censura dois anos depois e Wilde, que era homossexual, foi perseguido e preso pela corte francesa. A primeira produção da peça aconteceu em Paris, em 1896, numa espécie de turnê-protesto e só voltaria aos palcos novamente em 1931. Oscar Wilde faleceu em 1900 e nunca viu seu texto encenado.
Ubu Rei (1896) de Alfred Jarry

Alfred Jarry foi um poeta, romancista e dramaturgo simbolista francês. É considerado uma figura inspiradora do surrealismo e do teatro do absurdo. Escrita em 1888 e encenada pela primeira vez em 1896, a peça “Ubu Rei ou os Poloneses” conta história de Pai Ubu, uma alegoria do político grotesco, estúpido, intratável, que chega ao poder trapaceando e governa praticando diversas atrocidades. A sátira grotesca subverteu as convenções do teatro clássico francês e causou furor por sua linguagem obscena e violência caricatural.
A Ópera dos Três Vinténs (1928) de Bertolt Brecht e Kurt Weill

A peça “Ópera dos Três Vinténs” é uma adaptação da dupla Brecht-Weill para a “Ópera do Mendigo”, escrita pelo Inglês John Gay em 1728. Enquanto o texto original satirizava a aristocracia inglesa, a versão alemã é uma crítica à burguesia, ou o pensamento burguês, suas negociatas e vícios do submundo. Vanguardista, a peça é a expressão máxima do teatro experimental de Brecht. O uso da “quebra da quarta parede”, se dirigindo ao público com frequência é uma das marcas do espetáculo. Aliada à música de Weill, a peça conquistou enorme popularidade ao mesmo tempo em que colecionou protestos por sua crítica social e pela utilização de elementos do teatro popular. A peça foi retirada de cartaz em 1933 pelos nazistas.
Vestido de Noiva (1943) de Nelson Rodrigues

A peça “Vestido de Noiva” é uma das mais importantes do teatro brasileiro. Muitos a consideram o marco inicial da dramaturgia brasileira moderna. O gênio Nelson Rodrigues conta a história de Alaíde, uma moça que é atropelada por um automóvel. Enquanto é operada no hospital, ela relembra o conflito com a irmã (Lúcia), de quem tomou o namorado (Pedro), e imagina seu encontro com Madame Clessi, uma cafetina assassinada pelo namorado em 1905. A montagem de 1943 dirigida por Ziembinski causou grande controvérsia no Brasil. A começar por sua temática transgressora e pela linguagem crua, explorando temas como a loucura, o incesto e a morte. Além disso, o cenário da peça é considerado muito inovador ainda hoje, apresentando três planos que se intercalam: o plano da realidade, o plano da alucinação e o plano da memória.
As Moscas (1943) de Jean-Paul Sartre

O nome do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre dispensa apresentações. Para além da revolução que promoveu no campo da filosofia, sua primeira experiência na dramaturgia é considerada polêmica pelo desafio que representou ao cenário da ocupação da França pelos nazistas em 1943. Em “As Moscas”, Sartre se inspira no mito da lenda grega de Orestes como uma alegoria para a resistência ao nazismo em prol da liberdade, para ele uma condição humana inegociável. Sartre, que foi preso pelos nazistas antes de integrar a Resistência Francesa, viu sua peça ser proibida pela administração militar alemã logo após a estreia.
E então, já conhecia alguma dessas montagens controversas? Siga com a Woo! Magazine para conhecer mais espetáculos que causaram polêmica.
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