“Quando a gente chega som ataca”
Amapaense criada no Rio de Janeiro, a cantora Lila é uma artista que tem cor. Cor de confete do carnaval, quando canta no bloco Fogo e Paixão. Cor da infância misturada a tantas influências geográficas. Cor de artista contemporânea, que vem acompanhada de elementos visuais fortes, mais belas-artes que pop. Ela prefere não se colocar em nenhuma prateleira musical, e eu prefiro que você dê o play antes da entrevista e leia mais colorido. Tem de entender a palavra som. No caso da Lila é barulho de mar, batidão e mão no violão.
Érika Nunes: O seu trabalho é fresco, tropical, brasileiro, como se desse para ouvir o barulho de mar ao fundo. Você escolheu gravar o primeiro EP em uma casa de praia. Por que o seu trabalho emana essas características? É uma escolha consciente ou algo que te reflete de maneira mais crua?
Lila: Música para mim é uma experiência transcendental que invade a gente de várias formas. Minhas escolhas são feitas às vezes de forma intuitiva e às vezes mais racional para produzir algo com um objetivo mais claro. A idéia de irmos pra uma casa de praia para gravar o disco veio de uma vontade minha de fazer o disco de forma mais orgânica, por exemplo. Ficamos juntos ali por quatro dias pensando e vivendo as músicas sem interferência das nossas rotinas individuais e de outros trabalhos. Isso deu ao EP um som mais vivo e quente que, mesmo que você não saiba dessa história, escuta marcado ali nas ondas sonoras. O som tropical acho que vem dessa vontade de ir caminhando com nossa música por outros caminhos e de outras formas, mas sem nunca perder a essência da natureza, do calor e da nossa cultura.
E.N.: Você usa elementos musicais brasileiros diversos. Carnavalescos, até. A sua relação com o carnaval influi nisso?
L.: Tenho uma relação profunda de amor e respeito pelo carnaval de rua. Cresci fantasiada em blocos e participei ativamente da retomada da cidade pelo carnaval de rua aqui do Rio. Para mim é uma das festas onde o Brasil é mais pleno e potente e isso não tem como não vazar na minha música.
E.N.: Qual é a diferença entre fazer apresentações com o trabalho solo e com o bloco Fogo e Paixão?
L.: São experiências completamente diferentes. O Fogo e Paixão tem uma proposta muito clara de resgate de músicas do cancioneiro brasileiro romântico e popular e eu estou ali apenas como uma espécie de mensageira da alegria. O carnaval é uma entidade muito maior do que eu e me sinto honrada e feliz de poder participar para fazer ele acontecer e gerar momentos felizes para tanta gente. Já no meu trabalho solo eu tenho mais autonomia de escolhas e produção. Desde a composição da música até em como a gente vai gravar e apresentar em shows, tudo é um caminho aberto em que cada escolha é feita por mim.
E.N.: O elemento visual é muito forte na sua obra. Além da música, você também transita pelas artes visuais?
L.: Sempre me interessei por artes visuais e cheguei a me formar em publicidade pra ser diretora de arte, mas acabei nunca exercendo a profissão.
E.N.: O cérebro criativo que canta é o mesmo que compõe e que produz design? Há uma separação entre os eus criativos?
L.: Toda a parte visual do meu trabalho tem a direção artística do Pedro Garcia, que faz a direção artística do trabalho como um todo também. A gente pensa junto desde as músicas, até em como elas ganharão uma camada extra do visual. Ele é o diretor do clipe da música Bicheiro do Meu Samba e meu parceiro na vida. Para a capa do EP a gente chamou o Filipe Raposo que fez um trabalho incrível.
E.N.: Você foi indicada para o Prêmio Multishow com o seu primeiro trabalho solo. Como os reconhecimentos externos e boas críticas mudam a sua percepção sobre si mesma, se é que mudam?
L.: Olha, o processo de produzir e lançar um disco é muito louco. Você fica um ano, no meu caso quase dois anos, elaborando e produzindo aquela coisa que você já tem maior intimidade, mas ninguém nunca ouviu. E aí você lança. O retorno das pessoas é imprevisível e muito gratificante. Cada música gera algo diferente, cada pessoa reage diferente e o retorno é cheio de surpresas. Em relação às críticas e à indicação ao prêmio, é um retorno de dentro do mercado que tem impacto direto na minha estrada profissional e abre portas para eu continuar caminhando e seguindo em frente. São reconhecimentos importantes e que ajudam no processo, mas em termos de percepção sobre mim mesma, acho que o do público tem mais impacto sobre mim.
E.N.: Você nasceu no Amapá. Criada por uma família mineira. Ainda pequena se mudou para o Rio. Como essa mistura de influências geográficas influenciou no conceito do EP?
L.: Esse EP é um retrato do que eu sou. Toda a minha história está ali e tudo que eu fui e sou aparece de alguma forma. A natureza exuberante do lugar aonde eu nasci, Minas e a relação afetiva e profunda e o Rio, cidade que me criou, vão sempre estar presentes em tudo o que eu fizer.
E.N.: Você se considera parte da nova MPB ou se enxerga em um movimento diferente?
L.: Eu deixo essa classificação de prateleiras musicais pros historiadores e pesquisadores. Só sei que o que faço é brasileiro e é contemporâneo.
E.N.: Quais artistas brasileiros mais te influenciaram e quais artistas contemporâneos te inspiram?
L.: Gal Costa, Tom Jobim, Milton Nascimento, Elis, Caetano, Gil são grande influências pra mim. Os contemporâneos que me inspiram são a Solange, James Blake, Jaloo, M.I.A., Karol Conka e BaianaSystem.
E.N.: O que podemos esperar da Lila em 2017?
L.: Ainda no fim de 2016 lanço um single novo em parceria com o Leo Justi (Heavy Baile) e ano que vem começo a produzir o disco novo.
E.N.: Uma estrofe escrita por você para encerrar a entrevista.
L.: “Lusco-fusco
Mostra, esconde, escapo
Entrelaça laço
Sua e minha coxa.”.
É diferente.
Para acompanhar o trabalho da Lila você pode acessar o seu site oficial e a FanPage no Facebook.
Por Érika Nunes
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