Pedro Almodóvar é um cineasta da pequena província espanhola de Calzada de Calatrava, que iniciou sua carreira na década de 70, atuando como diretor, ator, roteirista e produtor. E de lá para cá desenvolveu belos trabalhos que, quase que consensualmente, desbravam o universo feminino de forma sensível e nem por isso simples.
Para muito além de Penélope Cruz (que é assumidamente sua musa), Pedro pôde contar com outras atrizes que, assim como Penélope, bem representaram a complexidade de ser mulher. Atrizes como as maravilhosas Marisa Paredes, Cecília Roth (ganhadora do Prêmio Kikito de Cristal em gramado neste ano de 2016), Elena Anaya (MARAVILHOSA!) entre outras incríveis intérpretes.
A beleza emocional das musas de Almodóvar é retratada em seus filmes de forma sutil, próxima à realidade das mulheres do nosso cotidiano, ainda que representada de forma um pouco caricata em certos momentos. Essa delicadeza no trato com o feminino confere aos trabalhos representatividade e envolve os expectadores de maneira profunda e intensa. ~~Até hoje não teve um filme (dos que tive a oportunidade de assistir) que ao final não rolasse aquela cara de pastel (geral) de quem sabe que o que se vê poderia ser absurdo se não fosse tão próximo da vida real, de nossas vivências e de tudo que ouvimos de amigos de amigos~~.E nesse retrato das mulheres, o diretor consegue abordar questões complexas de maneira convincente. Explorando a rotina de suas personagens, descreve a forma como cada uma lida com os problemas impostos, mostrando suas fraquezas, mas, acima de tudo, a força feminina.
E, neste contexto, os personagens masculinos dão suporte a tal complexidade. Em muitos casos tentando penetrar em seus mundos, em tantos outros tão absortos na atmosfera criada por elas que perdem o prumo, a ética Mas nem só de mulheres se compõe o universo feminino de Almodóvar. Suas mulheres vão além das, digamos… nascidas mocinhas. Não raro suas obras contam com personagens masculinos que se travestem de mulheres. E esses personagens desenvolvem relações interessantes com os demais: as tramas narram temas como prostituição, paternidade, DST, pedofilia, dentre outros tabus sociais. E o mais interessante é que elas podem ser as responsáveis por dar o ar cômico ou dramático ao mesmo filme – como acontece em Tudo sobre minha mãe, onde de um lado temos toda graça e doçura de Agrado (Antonia San Juan – atriz cisgênero) e do outro lado todo drama trazido por Lola (Toni Cantó).
A questão da sexualidade (que vamos combinar que o cara é bom em tratar disso) talvez tenha o seu ápice no longa A pele que habito (2011), onde o tema é tratado de forma densa, indigesta e até mesmo cruel. Estrelado por Antônio Bandeiras, Elena Anaya, Jan Cornet e Marisa Paredes apresenta com frieza um emaranhado de emoções que passam por traições, depressão, drogas e abuso de poder.
Em tempos onde o lugar da mulher passa a ser tão discutido e a igualdade é buscada com mais e mais afinco, o diretor mostra que ao longo de décadas esteve na vanguarda da discussão. Com mestrado em “embaralhamento de gêneros”, o diretor é muito feliz em suas representações. Vale a dica de explorar suas obras e se aprofundar nas discussões – porque se tem uma coisa que a gente ama é problematizar, né?
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Almodóvar, sem dúvida é um dos mais interessantes e interessantes diretores de todos os tempos. O cara entende de comportamento humano e sabe trabalhar isso muito bem em suas ótimas personagens. Sou fã de carteirinha, como cinéfilo e diretor.