De acordo com a Wikipédia, a síndrome de Amoque (ou Amok) é uma síndrome que consiste em uma súbita e espontânea explosão de raiva selvagem, que faz com que a pessoa afetada por este mal ataque e mate indiscriminadamente pessoas e animais que aparecem à sua frente. Assustador não?!?
Pois esta síndrome terrível não é apenas a personalidade do garoto aparentemente fofinho criado em 2007 por Bennet e publicado ocasionalmente nas páginas da Gazeta do Povo. O personagem de moletonzinho com capuz de orelhinhas é a própria personificação da síndrome. Isso faz com que o rapazinho de idade desconhecida sofra muito com a felicidade alheia, e consequentemente prefira brincar de serra elétrica e “cemiteriozinho” em vez de casinha. Outra característica mórbida do pequeno é o desejo de comer os restos mortais de toda a sua família ao molho pesto. Pois esta doçura de criança é o protagonista no livro Amok – Cabeça, Tronco e Membros, reunião de tiras inéditas misturadas com outras já publicadas até o momento.
Uma vez que o material de Bennet é regularmente publicado em jornal, se compõe basicamente de tirinhas, embora também conte com algumas ilustrações ocasionais e histórias curtas de uma única página. O formato quadrado com três tiras por página é bem prático de ser lido e a quantidade de 90 páginas é o suficiente para ter uma referência satisfatória deste ótimo trabalho. O Álbum ainda conta com um belo prefácio inspirado de Fernando Gonsalez, o pai do Níquel Náusea, e um pequeno pôster de Amok.
As artes são bem minimalistas, muitas vezes se restringindo exclusivamente ao desenho do personagem em cada quadro. Ocasionalmente pequenos rabiscos disformes compõe os cenários e ambientações. Não que isso seja pobre, afinal a força narrativa destes quadrinhos está na expressão dos personagens e nas piadas de humor negro e sarcástico. Os traços são bem simples e ligeiramente “sujos” porém ao mesmo tempo muito expressivos. Isso faz com que os personagens soem bastante eloquentes, tanto verbalmente quanto em suas linguagens corporais e expressões faciais. A semelhança das artes com Calvin e Haroldo é inevitável, embora o tipo de humor seja diverso.
Amok está sempre armado com um belo arsenal de insultos, ironias e sarcasmos para desmanchar sorrisos, acabar com esperanças, estrangular a compaixão e destroçar livros de autoajuda. Seu objetivo principal é exterminar a felicidade e o amor, sentimentos que ele rejeita e estão presentes em tantas pessoas, seja de forma verdadeira ou hipócrita. Com isso o texto tem um humor ácido, com críticas sociais severas e tendenciosas. A cultura pop também é fortemente criticada nas tiras, sendo os principais alvos de Amok, as duplas sertanejas e grupos de pagode, os reality shows televisivos e as literaturas de auto ajuda.
Apesar da fartura quase infinita de hipocrisias sociais e temas culturais de gosto duvidoso para serem explorados e duramente criticado, Amok acaba não saindo de uma esfera limitada de ironias e cutucadas sutis. Basicamente ele nunca extrapola o limite do politicamente correto, mantendo o cuidado para que as piadas não venham carregadas de ofensas pessoais. Uma vez que se trata de material publicado em jornal, é compreensível esta “regulação” indireta. De modo geral o material é bastante criativo, mesmo caindo frequentemente em repetições e variações da mesma piada.
O autor de Amok, Alberto Benett, é cartunista nascido em Ponta Grossa e radicado em Curitiba-PR. Publica suas tiras, ilustrações e charges diárias no jornal Gazeta do Povo e é editor da revista de humor e quadrinhos Zongo Cômiques. Em 2005 foi vencedor do Salão de Humor de Piracicaba, na categoria quadrinhos.
Ficha Técnica:
Editora: Mórula Editorial – Edição especial
Autor: Alberto Bennet (roteiro e desenhos)
Número de páginas: 92
Formato: 20X20cm
Data de lançamento: Agosto de 2013
Imagem: Divulgação/Amok (Créditos: Renata Pereira – Blog Uma Leitura a Mais)
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