Prestes a completar 20 anos, “Death Note” nunca saiu da boca do povo
É muito provável que ele tenha sido o seu primeiro, e se ainda não lhe foi apresentado, certamente mudará sua perspectiva sobre animação japonesa. Não poderia ser diferente: para falar de animes clássicos “Death Note” é figura mais que essencial — revisitamos sua história em busca da grande explicação: qual é a mística por trás desse título que nunca caiu em relevância?
Promessas de revolução

De tempos em tempos isso acaba acontecendo de novo: por acidente, por por vontade própria, um shinigami (deus da morte) deixa seu caderno cair na Terra. Assim que é encontrado, ele se torna propriedade daquele que o tiver em posse, que passa a enxergar essas criaturas. Este é o caso de Ryuk, que tem seu caderno da morte encontrado pelo terceiranista Light Yagami, um rapaz brilhante, mas cético com o mundo — e extremamente narcisista.
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“Quem tiver o nome escrito neste caderno morrerá”, apesar de desacreditar a princípio, o adolescente faz um teste e, para sua surpresa, sua vítima morre de ataque cardíaco dentre os próximos seis minutos. Há outras regras: é necessário visualizar o rosto de quem morrerá, também sendo possível especificar a causa mortis.
Abismado com sua descoberta, ele decide entrar em uma missão para “purificar o mundo”, livrando-o de criminosos e pessoas ruins. No entanto, deverá ser cauteloso: caso encontrem seu caderno, ele seria o suspeito número um. É aí que ele cai em uma armadilha: a entrada do maior detetive do mundo, o excêntrico L, põe em cheque sua estratégia: orquestra-se uma exibição anunciando a caça ao assassino, o “killer” (“kira” em japonês), colocando um condenado à morte com um nome falso em um noticiário local da região de Yagami — ao morder o anzol, Light revelou não apenas onde morava, mas possivelmente sua ocupação, e também que estava disposto a matar inocentes se preciso.
Começa então um jogo de gato e rato e colisão de ideais. Até onde Light irá para atingir seu objetivo? Além disso, não será nada fácil escapar da mira da polícia sendo o seu pai estando na linha de frente de investigação do caso — ou melhor: ele poderá tirar proveito disso.
Um dia te mostrarei um mundo resplandecente
DIfícil de tirar o olho é uma boa forma de se pensar Death Note. Assim que a história começa, é difícil ter autocontrole para não começar mais um episódio — e outro, e mais outro. São incontáveis ganchos, e uma construção de mundo tão crível que o próprio espectador se sente cúmplice do protagonista.
Em uma obsessão por imagética cristã — ainda mais evidente em “Platinum End” (2015), do mesmo autor — a estética desempenha um papel importante na construção de mundo, construído com muita mística e cinismo, não por acaso optou-se por explorar a estética gótica e que dá todo o charme que este anime ficou parado no tempo.
O protagonista, Light Yagami, é alguém bem consciente disto: filho de um chefe de polícia, melhor aluno de onde passa, e muito atraente, ele usa seu charme como arma para conseguir o que quer, tanto manipulando sua namorada, Misa Amane, quanto mantendo as aparências de prodígio insuspeito — o que o torna alguém tão perigoso.
E é nosso atrapalhado gênio que no primeiro episódio, tendo poderes sobrenaturais a sua disposição, consegue fazer com que as buscas por ele, o assassino, se reduzam à sua região no Japão. Apesar disso temos um confronto das mentes brilhantes e, mesmo quando as decisões questionáveis estão lá, há toda uma artesania para fazer o telespectador ir para o próximo episódio.
L, por sua vez, é um completo outsider. Ele não se mistura, não é vaidoso, possui maneirismos e comportamentos infantilizados, e é um tremendo desafio de leitura — não é uma tarefa simples entrar em sua mente, na verdade, mesmo Light não consegue prever o que o adversário está pensando, o que rende incontáveis momentos de “mal sabe ele que eu sei que ele sabe que eu sei que ele sabe […]”.
Como um bom clássico por excelência, retornar a obra é a oportunidade de repescar coisas que se deixou passar na primeira assistida — a esse ponto, boa parte delas já discutidas, como Naomi Misora alinhada à Pietà de Michellangelo, ou a nossa favorita: o lava-pés (João 13) prevendo e revelando consciência da traição de Yagami contra L.

Ao poético que soe, as referências de Death Note — mais ou menos sutis — estão todas dentro da estética gótica do exagero, do camp, do excessivamente dramático; a recepção do público ocidental pode ter sido tão boa quanto ao nipônico, contudo, há um subtexto de exoticismo com a religiosidade cristã aos japoneses, e essa é uma história que não tem vergonha de abraçar o teatral — basta ver todas as caretas maníacas pelo protagonista.
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Talvez, no entanto, a maior prova de que essa seja uma história que atravessou os anos com um legado tão forte é como ela foi sendo rediscutida em diferentes momentos e contextos. Death Note já virou reportagem da Record para causar pânico moral em pais desinformados, mas também mantém o debate aceso: Light era um vilão ou um herói, afinal? — e quantos não são os que têm uma opinião sobre isso quando veem mais novos e mudam quando crescem?
Nem tudo são flores. Há uma perda de força narrativa a partir da virada da série após o fim do episódio 25, arrastando-se por mais doze que não têm o mesmo charme do embate de mentes dos dois primeiros terços. Há de se argumentar que essa decadência estaria associada com o declínio de Light — para nós? Não cola, mas é uma desculpa bonita!
“Death Note”. Imagem Destacada: Divulgação/Netflix
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