Final de Arcane divide a internet; fica gosto amargo de quem voou alto demais e não teve fôlego para seguir voo
Estreou hoje (23/11) o terceiro ato da segunda temporada de “Arcane”, com a trinca de episódios finalizando a saga inspirada no universo de League of Legends. Um final divisivo e que há de levar os fãs para a terapia por algum tempo. Confira nossa crítica com spoilers da finale de Arcane, disponível na Netflix.
“Te dizem que você é o melhor”
O ano de 2024 tem sido muito generoso para produções que alcançaram o mainstream, inclusive dentro da indústria de animação. O retorno de “Arcane” já era sabido como um dos principais acontecimentos culturais do ano, dado o sucesso da exibição da primeira temporada — um raro alinhamento celeste entregando excelência em todos os âmbitos.
Animação, trilha sonora, marketing de lançamento — mantendo a comunidade em suspenso com o lançamento progressivo dos episódios (porém não limitado a) — desenvolvimento de personagens, ousadia artística, e um orçamento gordo para não deixar faltar nada.
Lançada a última trinca de episódios, porém, precisamos recalcular um pouco a rota, ou ao menos fazer algumas concessões sobre como pensamos a série.
“O sofrimento”
Arcane é uma série excelente, que isso não deixe de ficar claro; qualquer elogio feito a esse ponto pode soar blasé — há beleza em cada minúcia e segredo escondido dentre as escolhas artísticas na produção, o que ficou mais evidente ao público geral sobretudo no nono episódio. Não há nenhuma novidade, portanto, para aqueles que assistiram a temporada um, nesse aspecto.
Entre as tantas coisas que cativaram o público está o conflito (anti)-heroico no elenco. As duas protagonistas são as irmãs Jinx (Powder) e Vi, embora outros personagens ganhem igual peso e destaque; este mundo está em constante movimento, não é estático, tampouco gira em torno das garotas zaunitas, é pelo desenvolvimento de um universo fantástico e verossímil — aos poucos apresentados aos nossos olhos — que a fórmula fica escondida e nos faz esquecer que estamos acompanhando ficção.
O terceiro ato, especificamente a series finale (“The Dirt Under Your Nails”) tem dividido opiniões sob a sua condução, no entanto. Isto porque um pacto foi estabelecido com o público e a entrega não necessariamente correspondeu às expectativas. O pacto, implícito, é aquele que a série se compromete a fechar as tramas e responder satisfatoriamente às inquietações do espectador. Finais abertos existem aos montes e não são menos válidos — são um recurso interessante (porém delicado) de roteiro — este não é o caso de Arcane: os arcos foram todos, de alguma forma, encerrados.
Essa reclamação, que tem tomado as redes sociais, no entanto, parece mais deslumbrada pelo calor do momento — o que não é, no entanto, é a mudança de ritmo nas sequências finais. Todos os episódios entregam uma média de 40 minutos, com exceção do último, com dez minutos a mais.
Apesar do bom resultado, a série enfrentou problemas de produção, e o farto orçamento se tornou um problema para os executivos da Riot, que viu dinheiro sendo gasto e prazos não cumpridos; Arcane precisava estrear. Seu sucesso além das expectativas deu um 180º nos planos da empresa, que decidiu canonizar o material da série e… isso possui diversas implicações para o universo de League of Legends.
Implicações essas que não são o foco deste artigo, pretendendo julgar a série em si mesma. Como um breve adendo, porém, diversos personagens tiveram suas tramas adaptadas, a ausência de alguns moradores ilustres de Piltover-Zaun traz dúvidas espinhosas ao seu funcionamento, e o final só termina de embolar tudo de vez. Na medida certa, o roteiro de Arcane soube fazer uma limonada com o que tinha, mais uma vez.
O que podemos dizer deste final… divisivo? Não é exagero dos fãs que houve uma queda, e trazer os problemas de produção — encharcados em uma história para adaptar que se cruza de tantas formas, apresentando uma miríade de personagens sem ser didático — pode ajudar a entender o porquê de algo que andava tão bem ter desandado, mas não justifica.
Os dois primeiros atos seguem a excelência já cantada, bem como a maior parte do terceiro. A sensação de insatisfação fica com a certeza de não continuidade à trama e um final fechado com temperos de aberto, vez que a resolução do grande conflito foi encaixada aos quarenta e cinco do segundo tempo.
Se o público pôde ver reviravolta sobre reviravolta — como quiçá mudar sua opinião sobre Jayce e Viktor ao longo da segunda temporada — fica um indignante gosto amargo na boca do que poderia ter sido. Arcane, ao contrário de produções que decepcionaram desenfreadamente na reta final, mantém a dignidade de ter um saldo muito positivo.
O final não foi ruim, a série tampouco, mas anticlimático e aquém do que poderia ter sido; diferente da quebra abrupta na finale da temporada um, daqui não há volta, um gancho para nova aventura, ou um gancho autofindável — e estamos falando de coisas como “De Volta Para o Futuro” (1985), “Coringa” (2019), e até “A Dona do Pedaço” (2019); faltou verve para quem tanto ousou, quis mostrar demais e não entregou.
Imagem Destacada: Divulgação/Netflix (IMDB)
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