Terceiro filme da roteirista, produtora e diretora Cristiane Oliveira, “Até Que a Música Pare”, traz às telas brasileiras esse filme calcado na relação de um casal unido há mais de 50 anos, cujo último filho está saindo de casa para estudar.
Essa família também é assombrada pela morte de um dos filhos em um acidente e sendo de origem patriarcal no Sul do Brasil, esse assunto que posteriormente irá impulsionar a história de forma surpreendente e às vezes cômica.
Co-produção do Brasil com a Itália, o argumento do filme parte de uma história da vida real, em que um patriarca negociante de estrada, realiza suas vendas na maioria das vezes sem nota fiscal e, portanto, sem recolher os devidos impostos obrigatórios do país.
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Porém, como desde o começo do filme são destacados os traços cristãos/católicos do casal, lança-se, um olhar um pouco mais agudo sobre a diferença do pensar religioso e das ações reais dessas pessoas, pois em determinados momentos do filme, pontuais nas audições de reportagens em que políticos expressamente de direita estão sendo presos por casos de corrupção, o patriarca lança aquela velha ladainha de que há outros bandidos para se prender e que é um “absurdo” serem arroladas ou presas nos processos, as esposas cúmplices que muitas vezes escondem os patrimônios ilícitos desses maridos.
Uma sacada nada sutil, mas pontual e serve para nos situar que mesmo nesses tempos modernos há lugares prosaicos em que pouca coisa muda no país.
Falado em grande parte na língua Talian, uma língua de imigração falada no Brasil na região provinda da ocupação italiana que vem desde 1875, em especial nas regiões nordeste do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Espírito Santo, cuja origem é o vêneto e é reconhecida pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), é uma boa oportunidade de quem não faz parte dessa parte do país se familiarizar com esse dialeto em que as palavras parecem cantadas ou é a forma com que a diretora filma e dirige as performances, pois não há modulações nas vozes e as emoções nessa língua realmente parecem de forma monocórdica.
A mudança de chave se dá quando a matriarca Chiara, fragilizada emocionalmente pelas perdas físicas e espirituais dos filhos entra em um contato fortuito com a religião budista e começa a associar a presença do seu filho falecido a um inesperado pet, trazido pelo seu marido.
As metáforas e cenas com Filomena (o pet) até pela sua natureza tornam-se óbvias, mas servem de motivo para o avanço da história a partir do momento em que Chiara começa a acompanhar seu marido nas vendas pelas estradas das cidadezinhas ao sul do país, e entra em conflito direto com ele sobre a forma de fazer seus negócios.
Há outros personagens nessa história mas que dão a impressão de que o escopo poderia ser maior do que se apresenta, pois são apenas pessoas-acessórios didáticos e explanatórios para que a história se movimente, talvez pelo pensamento da produção de que já seria complexo a introdução uma língua (que aliás é legendada), uma religião pouco conhecida para maioria dos brasileiros, a relação do casal, a família que os cerca, etc.
Tudo na tela e pouco coisa em desenvolvimento a não ser a vontade e sensibilidade para tratar de alguns assuntos, e a diversão que alguns momentos proporcionam de forma natural.
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Quanto aos atores e atrizes nenhum compromete, mas a grande interpretação que leva todo o filme à memória é de Cibele Tedesco!
Certeira e precisa, desde os momentos de rabugices, que aliás são resolvidos de forma muito pueril, considerando o tema da perda e os percalços que passa com o marido, mas que comove quando está em contrição das suas dúvidas existenciais e extremamente divertida nos momentos cômicos, pois os interpreta de forma séria e inocente.
Atuação essa premiada com louvor no último Festival de Gramado.
Trata-se de uma boa oportunidade para conhecer mais uma das diversas e muito interessantes diretoras que realizam a difícil tarefa de levar à frente o cinema no país.
Imagem Destacada: Divulgação: Pandora Filmes
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