Faixa da banda The Verve foi acusada de plágio devido ao uso de um sample da música “The Last Time”, dos Rolling Stones
Poucas canções na história da música britânica capturaram o espírito de uma geração com tanta força quanto “Bitter Sweet Symphony”, do The Verve, cujo vocalista e líder Richard Ascroft está atualmente sob os holofotes por abrir os shows da etapa britânica da turnê de reunião do Oasis.
Inclusive, a música “Cast No Shadow” do álbum “(What’s the Story) Morning Glory?”, o guitarrista e compositor principal do Oasis, Noel Gallagher, escreveu e dedicou a Ashcroft, reconhecendo sua influência e talento. Ashcroft, por sua vez, expressou gratidão pela homenagem, considerando-a uma grande honra. Uma nota no encarte do álbum diz que a faixa era uma homenagem ao “gênio Richard Ashcroft”. Lançada no mesmo ano, a faixa “A Northern Soul”, do The Verve, seria uma resposta ao gesto.
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Lançada em 1997, com sua melodia melancólica e arranjos de cordas arrebatadores, a faixa rapidamente se tornou um hino moderno. Mas por trás da glória, havia uma ferida aberta — uma das disputas legais mais comentadas da música nas últimas décadas. Uma batalha de direitos, crédito e justiça que só encontrou paz mais de vinte anos depois, graças a um gesto surpreendente vindo de duas lendas do rock: Mick Jagger e Keith Richards.
Uma sinfonia que ecoou no mundo inteiro
Com seu riff de cordas inesquecível, Bitter Sweet Symphony foi lançada como o primeiro single do álbum “Urban Hymns”, do The Verve. Imediatamente, tornou-se um fenômeno global. Chegou ao 2º lugar nas paradas britânicas e ao 12º nos Estados Unidos, e foi indicada ao Grammy. Mas seu impacto foi além das cifras: tocou em eventos esportivos, trilhas sonoras, comerciais — e se cravou na memória afetiva de milhões de pessoas.
Na superfície, era uma canção sobre escolhas, rotina, frustração e esperança. Um retrato emocional dos anos 90. Porém, para Richard Ashcroft, compositor e vocalista da banda, ela também se tornaria sinônimo de frustração artística e desilusão com a indústria musical.
A origem do problema: quatro segundos de controvérsia
No centro da disputa estava um trecho de apenas quatro segundos — um sample de uma versão orquestral da música “The Last Time”, dos Rolling Stones, gravada em 1965 pela Andrew Oldham Orchestra. A gravadora de Ashcroft havia obtido autorização para usar a gravação. Mas os direitos de composição eram controlados pela ABKCO, empresa criada por Allen Klein, o ex-empresário dos Stones — e a história ficou mais complicada do que parecia.
A ABKCO alegou que a banda havia usado mais material do que o permitido. Sem julgamento ou audiência pública, o caso foi resolvido rapidamente fora dos tribunais. O acordo: Richard Ashcroft teria que ceder 100% dos direitos autorais da música e incluir Jagger e Richards como coautores. O resultado? Milhões em royalties passaram a ir para os Rolling Stones — e Ashcroft perdeu sua obra mais célebre, pelo menos do ponto de vista legal.
“A melhor música dos Stones em 20 anos”
Ashcroft nunca escondeu seu descontentamento. Em entrevistas, demonstrava frustração e sarcasmo. Sua frase mais conhecida sobre o caso resume o absurdo:
“É a melhor música que Jagger e Richards escreveram em 20 anos.”
Para o público, era difícil entender como um artista podia perder o direito à sua própria criação. Mas esse episódio se tornou um símbolo do desequilíbrio no mercado musical: contratos injustos, figuras poderosas controlando obras alheias e artistas vendo seus trabalhos se tornarem produtos distantes de suas mãos.
A reviravolta inesperada
Em 2019, mais de duas décadas após o lançamento de Bitter Sweet Symphony, veio o desfecho mais improvável — e mais justo. Durante a cerimônia do Ivor Novello Awards, onde foi homenageado por sua “Contribuição Excepcional à Música Britânica”, Richard Ashcroft anunciou que os direitos da canção haviam sido finalmente devolvidos a ele.
Segundo ele, sua equipe entrou em contato com os representantes dos Rolling Stones. Para sua surpresa, Mick Jagger e Keith Richards concordaram imediatamente, sem hesitação e sem pedir nada em troca, em devolver os direitos e remover seus nomes dos créditos autorais.
Em seu discurso, Richard fez questão de agradecer também a Jody Klein, da ABKCO, e Joyce Smyth, empresária dos Stones, mas reservou seu agradecimento mais emocionante aos dois músicos que decidiram corrigir uma história mal resolvida:
“Por fim, um enorme, sincero e respeitoso agradecimento a Mick e Keith. A música é poder.”
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O legado de uma canção e de um artista
Desde Urban Hymns, que vendeu mais de 10 milhões de cópias e se tornou um dos álbuns mais vendidos da história do Reino Unido, Richard Ashcroft seguiu carreira solo, lançando cinco álbuns — incluindo o aclamado “Natural Rebel”, em 2018.
O The Verve, por sua vez, se separou em 1999, teve um breve retorno em 2007 e lançou um último disco, “Forth”, antes de encerrar sua jornada. Mas Bitter Sweet Symphony permaneceu como uma constante, um hino de melancolia, beleza e resistência.
Imagem Destacada: Divulgação/The Verve (via MUBI)
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