Em Blue Moon, Richard Linklater referencia Lorenz Hart com um certo grau de melancolia
O novo longa de Richard Linklater, “Blue Moon”, é inspirado em fatos e retrata a vida do letrista Lorenz Hart, seguindo o arquétipo do artista brilhante que enfrenta transtornos psicológicos e dependência química — no caso dele, o alcoolismo. Seus conflitos se intensificam após seu parceiro de longa data, Richard Rodgers (o sempre ótimo Andrew Scott), alcançar notoriedade com uma peça escrita em colaboração com outro compositor.

Interpretado com intensidade e paixão por Ethan Hawke, Hart permanece durante todo o filme em um bar, cenário da celebração pelo sucesso da peça de Rodgers, onde dialoga com o garçom Eddie — vivido por Bobby Cannavale com aquele velho jeito ítalo-americano de ser — enquanto aguarda a chegada da bela Elizabeth Weiland (Margaret Qualley, quase como ela mesma), por quem está apaixonado.
“Blue Moon” é essencialmente um filme de diálogos (quase um teatro filmado), nos quais os personagens compartilham reflexões sobre a existência, e Hart tem muito a dizer, especialmente sobre arte. Ele domina as conversas, tecendo críticas com acidez e revelando suas paixões, enquanto Linklater o enquadra de forma íntima, como se sua câmera funcionasse como um confessionário.
Entretanto, a câmera não se limita a observar passivamente. Os enquadramentos que mostram Hart da cintura ou do ombro para cima, enquanto seus interlocutores ocupam a tela quase por completo, não apenas evidenciam sua baixa estatura, mas também reforçam sua posição de inferioridade na percepção alheia. É como se ele fosse um homem pequeno, solitário e debilitado, mesmo sendo reconhecido como um gênio.

Há uma profunda melancolia no personagem, que desperta compaixão, sobretudo por estar constantemente em busca de migalhas de atenção daqueles que o enxergam como uma figura célebre relegada ao esquecimento. Em diversos momentos, parece que o próprio Linklater compartilha dessa visão, já que Hart não obtém sequer uma vitória ao longo da trama, sendo submetido a uma sucessão de derrotas. Ele mereceria, ao menos, um momento de triunfo em uma história marcada por constantes golpes.
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Ainda assim, Hart é eternizado pela magia do cinema. Seu legado como letrista é reverenciado por meio do que Linklater faz de melhor: o texto. Os diálogos ágeis, repletos de filosofia e lirismo, envolvem o espectador — ora provocando risos, ora despertando emoção. Por isso, o requinte do roteiro transforma “Blue Moon” em uma cinebiografia à altura de um artista que, embora pouco conhecido fora dos Estados Unidos, é celebrado com dignidade.
Este filme foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Vídeo: Divulgação/Sony Pictures Classics
Imagem em destaque: Imagem: Divulgação/Sony Pictures Classics

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