O filme “Cairo 678”, dirigido por Mohamed Diab, tem como plot central a história de três mulheres egípcias que se entrelaçam. Cada uma delas foi tocada pela misoginia de alguma forma em solo egípcio e está tentando lidar com isso à sua maneira. Seba, abusada em um jogo de futebol em que acompanhava o marido, passa a dar aulas de defesa pessoal para mulheres. Nelly, a comediante que trabalha como atendente de telemarketing, busca sua reparação através da lei. Fayza, que é atacada no ônibus, decide revidar de uma forma diferente: com um alfinete.
“Cairo 678” é, acima de tudo, um filme sobre sororidade feminina. Essas mulheres buscam umas nas outras o que não puderam encontrar em seus parceiros e familiares. Elas decidem adotar uma postura mais ativa em relação aos abusos sofridos e acabam por iniciar um novo movimento.
As histórias de “Cairo 678” parecem atemporais e universais, você pode dizer “ah, mas lá no Egito é muito pior do que aí”, mas será? No Brasil, ao menos na superfície, mulheres gozam de grande liberdade. Biquínis pequenos, trabalho, cervejinha no bar. Mas será que somos tão livres assim e será que a nossa liberdade não vem com um preço? Vimos semana passada que nem mesmo quando um abuso é registrado por imagens a vítima dele encontra empatia inquestionável.
Como o filme “Confirmation” (que foi assunto da coluna passada), “Cairo 678” expõe uma possibilidade nova em relação ao abuso que não seja o silêncio. O silêncio vem pelo medo do julgamento, o que é justificável. Mas não agir torna essas condutas ainda mais cristalizadas do que já são. Infelizmente, como é exposto em ambos os filmes, a voz feminina muitas vezes não encontra recepção empática, a não ser quando não incomoda o status quo.
Por que é tão difícil acreditar em uma mulher? Talvez a questão não seja acreditar, mas a ideia inconsciente, e por isso não admitida, de que a nossa liberdade precisa ser paga. E a conta vem em forma de abuso, descrédito, gaslighting. Trabalhamos até em sets de filmagem (uhul), mas encontramos um ator que justifica sua conduta problemática e abusiva com “era só o personagem”. Se não podemos estar seguras, então não podemos viver. Se precisamos estar alertas 100% do tempo, sobrevivemos apenas. Olhar para a própria ferida e nos reconhecer nas mulheres de “Cairo 678” traz dor, mas uma dor necessária.
As personagens do filme são baseadas em mulheres reais. Mulheres que escolheram a sororidade para lidar com o ódio às minas. Podemos aprender com elas.
“Cairo 678” é um filme que era facilmente encontrado em locadoras e que infelizmente ainda não está em nenhuma grande plataforma de streaming. Mas vale o esforço de procurar um link para assistí-lo. Boa sessão!
Por Érika Nunes
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