Assim como o diretor norte-americano Woody Allen tem sua fama ligada as questões freudianas, o cinema francês também traz essa característica. E isso, necessariamente, não precisa restringir as produções ao nível “cult”. Podemos observar que desde os anos 60 com o famoso movimento da Nouvelle Vague francesa, o senso comum quanto aos longas metragens, produzidos desde então, ficou extremamente ligado a um tipo de público.
Estas pessoas são definidas como muito apreciador de cinema e, por isso, teria um melhor entendimento sobre a narrativa. Para mostrar que os filmes franceses conseguem juntar a psicanálise e o grande público, anote aí duas dicas para você conferir: “Qual é o nome do bebê?” e “Bem me quer, mal me quer”.
De 2013, a produção “Qual é o nome do bebê?” teve um sucesso enorme. O filme conta a história de um jantar, passando o tempo inteiro de duração dentro de um apartamento em Paris, como uma filmagem de um palco de teatro. A programação para a noite surge da notícia de que o personagem Vincent (Patrick Bruel) vai ser pai. A ideia de reunir para a refeição parte de sua irmã Elisabeth (Valérie Benguigui), em sua casa. Ela e seu marido Pierre (Charles Berling) convidam então Vincent, a grávida Anna (Judith El Zein) e o amigo de infância Claude (Guillaume De Tonquédec).
No entanto, o encontro acaba transforma-se em discussões e bate bocas entre os neuróticos. Entre eles, podemos observar a disputa entre as neuróticas histéricas e os neuróticos obsessivos. Ao mesmo tempo que os homens querem reafirmar suas posições, as mulheres também entram nas discussões queixando-se de suas faltas. Isso tudo misturado a falas nunca ditas antes e confrontos entre os personagens. Além disso, começamos a conhecer as inseguranças de cada um.
A narrativa dessa começa surge em torno daquilo já apontado em seu título: a curiosidade sobre o nome do bebê. Isso tudo acontece antes que a grávida chegue ao apartamento. Iniciando essa conversa, os presentes começam logo a discutir cheios de ansiedade sobre a escolha. Porém, Vincent dá início as alfinetadas, que então só continuam sem fim, e cada um faz questão de entrar para a batalha de palavras.
Enquanto isso, a outra produção, “Bem me quer, mal me quer”, segue outro caminho da psicanálise. O filme anterior apresenta um roteiro com brigas entre personagens neuróticos, já este mostra uma protagonista psicótica. O longa metragem é de 2003 e trata sobre a erotomania, ou Síndrome de Clérambault, um tipo de transtorno mental em que a pessoa cria na cabeça que outra está apaixonada, podendo ser secretamente, por ela.
Esse é o caso de Angélique (Audrey Tautou), que cria essa paixão pelo médico Loïc (Samuel Le Bihan). Conforme a história vai se desenrolando, o espectador começa a perceber que tudo que a personagem principal conta não passa de mentiras e criações de sua cabeça. A artista plástica crê, fielmente, em que o doutor a ama e faz de todos os encontros entre eles uma possibilidade de contato. Para completar, ela insiste em contar para os seus amigos sobre cada acontecimento e que o profissional precisa ser discreto por conta de seu casamento.
No entanto, as mentiras de Angélique começam a ser descobertas e mostram o perigo que essa atração e obsessão pode trazer. Isso é mostrado a partir do momento em que sofre com a rejeição. Um paciente com erotomania pode chegar ao ponto de cometer um crime em nome de uma paixão lunática como essa.
Por estar vivendo dentro desse delírio amoroso, a personagem se mantinha convencida sobre esse pensamento de amor. A estratégia do filme então parte ao começar a mostrar os dois lados da mesma situação, do que Angélique via para o que realmente acontecia sobre os olhos de Loïc. Este começa a se seguir perseguido por alguém, sem dar um rosto a essa pessoa, e tudo isso acontece por conta das ações dela.
O desenrolar do cada um desses filmes ficará aqui no mistério. Para isso, não deixe de assisti-los porque vale a pena. Eles podem ser o seu primeiro contato com produções francesas, por exemplo. Essa experiência pode ainda abrir sua curiosidade sobre questões de psicanálise, e poder perceber como esses pontos são cruciais para o desenvolvimento de um roteiro. Para completar, ela ajuda na estruturação e dar vida aos personagens.
Por Gabi Fischer
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
2 Comments