A delirante história de um homem morto é um drama escrito e dirigido por Daniel Gravelli e retrata a vida do perturbado Samuel e o Claustrofóbico convívio com sua mãe, Elis, uma ex-alcoólatra e fanática religiosa que pensa que a melhor maneira de criar o filho é distanciando-o da realidade do mundo.
Liberdade, segundo o dicionário, é o grau de independência que um cidadão, um povo ou uma nação elege como valor supremo, como ideal. Porém, até onde somos mesmo livres? Se escolhemos algo como ideal para seguir, consequentemente temos uma barreira da qual não podemos ultrapassar. E se não pudermos ultrapassar, portanto, estamos presos. Então, como conseguir a plena liberdade, se nem ao menos conseguimos defini-la direito? Pois bem, a Delirante História de um Homem Morto mostra várias facetas dessa tal “Liberdade”.
A direção de Daniel Gravelli é imagética e enigmática, sua precisão para com a trama e suas vertentes metafóricas é uma grata surpresa. Escolhendo rodar o curta em preto e branco, Gravelli ocasionalmente nos remete alguns grandes clássicos do cinema, como Psicose e M!, ainda que também utiliza esse preto e branco para refletir seu personagem principal, pois o mesmo não conhece as cores do mundo fora da casa. Utilizando, acertadamente, a troca para o colorido em um momento circunstancial da projeção.
Também gravado quase todo em plano médio, e hora ou outra plano detalhe, mostrando para o espectador a visão de mundo pequena e claustrofóbica de seus personagens. A Delirante História de um Homem Morto ainda nos deixa refletindo sobre interessantes rimas visuais, note como o lugar que Samuel fica é cheio de jornais grudados na parede, expondo-nos sua ânsia pelo saber. Em outro momento o mesmo Samuel aparece “preso” atrás de grades de madeira. Além da trilha sonora que também transmite essa sensação de prisão ao silenciar-se por vários momentos.Some-se a isto tudo uma atuação excelente da dupla principal. Paulo Olivera, que interpreta o Samuel, transpõe uma melancolia em suas expressões, e uma curvatura corporal incômoda por estar em uma situação complicada e inferiorizada pela outra pessoa. E Helga Nemeczyk compõe uma Elis dúbia, hora passando ferocidade, outra banhando-se em medo e angústia.
Entretanto, o curta acaba falhando em alguns aspectos. A mixagem de som é desagradável, as falas dos personagens saem baixas demais, em outros momentos as batidas de porta e pisadas no chão são muito fortes. A resolução, apesar de ser metafórica, acaba soando um pouco forçada pela circunstância em que ocorre. Porém, nada disso compromete a obra por completo.
Por fim, A Delirante História de um Homem Morte é um excepcional curta-metragem sobre as facetas dessa tal liberdade. Elis acreditava estar se libertando dos males do mundo, enquanto Samuel queria a libertação de casa. Afinal, qual a liberdade plena? Enfim, um curta que me surpreenderia muito se não ganhasse algum prêmio.
Por Will Bongiolo
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