Quando Robert Pattinson foi anunciado como o novo homem-morcego em “Batman”, muitas dúvidas e questões rodearam o filme. A escolha dividiu opiniões no início, e muita gente defendeu que o ator não era o melhor para o papel. A virada veio exatamente quando mais detalhes da produção foram divulgados, além do excelente trailer. Daí em diante, a dúvida se transformou em expectativa cada vez maior. E o filme supera todas elas, já que tudo funcionou muito bem, desde o conceito até as atuações incríveis. Confira a seguir a crítica com alguns spoilers:
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Após diversos filmes criando e recriando um novo Batman, fica difícil esperar que algo mais ainda possa se fazer com as sagas desse herói. Junta-se a isso a insuportável pressão hollywoodiana por filmes de herói com censura livre, na busca por recordes de bilheteria e venda de produtos licenciados. Felizmente, Matt Reeves se mantém fiel ao seu estilo e apresenta um filme com conceito inteiramente voltado para o público adulto.
Reeves já começa acertando por desenvolver o filme a partir do “Ano Dois”, mais investigativo. Isso o permite usar com maestria elementos do cinema noir, ao mesmo tempo em que subverte sua lógica. Não espere surpresas e revelações impactantes, típicas desse gênero. A aposta dele é manter elevadas as tensões em torno dos crimes, adicionando camadas interessantes das personagens em meio a uma Gothan City escura e chuvosa, à beira de um colapso, assombrada por um assassino em série psicopata. É o retorno do protagonismo da cidade nessas tensões.
O filme destaca as questões políticas e sociais as quais somos instigados a participar a todo momento. A abordagem é competente desde os lamentos discursivos do personagem-título sobre a condição da cidade, até o tratamento explícito da corrupção, da violência institucionalizada, exploração sexual e o descaso do poder público no enfrentamento desses problemas. E o que é mais incrível é que ele destaca todos os olhares dos múltiplos agentes nessa dinâmica de poder, de forma até literal, com várias tomadas de câmera que simulam o olhar.
Falando assim, parece que não temos cenas de ação. Elas não só existem, como também são muito bem desenvolvidas como a perseguição que Batman faz ao Pinguim a bordo de seu Batmóvel. As cenas de luta, são muito bem coreografadas.
Mais uma vantagem de estarmos no “Ano dois” nesse filme é que ele se desobriga a ser um filme de origem, mesmo que apresente alguns fatos da história de dor do personagem principal. A morte dos pais e as dificuldades de ter ficado órfão tão cedo estão lá para dar forma a esse jovem herói, que já tem uma parceria consolidada com a polícia. Isso permitiu ao diretor se livrar de falas que ninguém aguentava mais, como “ninguém vai acreditar, mas eu vi o Batman”. Ele está lá para todo mundo ver. O Batman, não o Bruce Wayne. Ponto também para o roteiro que consegue amarrar toda essa complexidade em personagens com suas pulsões exploradas no mesmo tom obscuro do filme. As abordagens caricatas de Charada e Pinguim vistas em outros filmes são deixadas de lado aqui.
Mas um ótimo conceito não se sustenta sozinho sem ótimas atuações. Robert Pattinson é tão especial para esse Batman que fica difícil imaginar outra pessoa no papel. Passando muito mais tempo como Batman, ou seja, mascarado e sem destaque para suas expressões, é incrível a carga dramática que o ator imprime. É um personagem sério, com olhar melancólico e um tom de voz que arrepia. A coisa só melhora quando começa a interagir com a incrível Mulher-Gato/Selina Kyle de Zöe Kravitz. A personagem é muito mais objetiva, com equilíbrio entre inteligência, sensualidade e muita atitude, se afastando de sua antecessora (interpretada por Anne Hathaway).
O carisma e a química entre os dois leva o fetiche para um lugar diferente dos filmes anteriores com a Mulher-Gato. Aqui é quase o elemento essencial para a tensão sexual entre ela e Batman. Na cena em que os dois efetivamente se conhecem, a bota de couro usada por Selina chama tanto a atenção do Batman que o leva a identificar a ligação indireta dela com um dos assassinatos.
Os inimigos do homem-morcego ajudam a traçar a personalidade do personagem principal, sem deixar de lado a trajetória própria de cada um. O Charada (Paul Dano) é o terrorista, psicopata e influencer de incels pelo qual esperamos o filme todo. Quando é descoberto entrega muito, no pouco tempo de tela que tem. Destaque para a conversa com outro internado em Arkham, um easter egg do jogo “Batman: Arkham Asylum”.
Pinguim (Colin Farrell, irreconhecível pelo trabalho de maquiagem) e Carmine Falcone (John Turturro) são os outros opositores de Batman, personificações da corrupção e do abuso de poder em Gotham. Completam o belo time de coadjuvantes James Gordon (Jeffrey Wright), a candidata ao cargo de prefeita Bella Reál (Jayme Lawson) e Alfred Pennyworth (Andy Serkis).
Tecnicamente o filme abraça a proposta obscura do diretor, da fotografia à escolha da trilha sonora. Assinada por Michael Giacchino, a música convida para um passeio na Gothan suja e degradada, em renovação eterna. E ainda usa “Something In The Way” do Nirvana como uma ode ao isolamento e à melancolia de Bruce Wayne. A duração do filme é um ponto a se criticar. Com 2 horas e 56 minutos, o espectador que não abraçar a ideia de Reeves pode ficar impaciente. Por fim, “Batman” é uma grande obra conceitual, que une drama, suspense e até terror, saindo do lugar-comum dos filmes de herói.
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