“A Garota Ocidental” é um longa-metragem de direção e roteiro de Stephan Streker, sendo este seu terceiro longa, onde retrata a dramática história de Zahira, interpretada por Lina El Arabi, em sua primeira e espetacular atuação, de forma profissional, traduzindo não só o papel da personagem, mas também todo o seu sentimento em olhares, movimentos e expressões corporais muito bem trabalhadas.
Zahira é uma jovem de 18 anos que vive a indecisão entre realizar um aborto e seguir com as tradições de sua família e religião e casar-se com uma pessoa escolhida antecipadamente, contra sua vontade, assim como suas antepassadas, ou manter a gravidez, seguindo sua vontade de viver com uma pessoa de sua escolha, mas romper com toda sua tradição, família e religião.
Conflito este, muito grande e complexo, já que a jovem não é uma rebelde que odeia seguir tradições e a religião, muito pelo contrário, ama sua religião e família, seguindo todas as tradições que lhe foram passadas, mas encontra-se em uma situação que lhe obriga a ir contra isto tudo, sua própria cultura.
Uma história baseada em um fato real em que uma jovem, Sadia Sheikh, foi assassinada, em 2007, pelo próprio irmão, em nome da honra, por negar-se a casar com um rapaz escolhido por sua família, porém o filme não entra em muitos detalhes sobre a história real, mas se pauta em seu drama para tratar questões que envolvem liberdade de escolha, o livre-arbítrio e as prisões que a tradição e a religião muitas vezes impõem aos que a seguem.
Sem colocar pré julgamentos, ou apontar o que é certo ou errado, o longa preocupa-se apenas em apresentar os dois pontos de vista, deixando ao espectador a discussão e conclusão final, já que, a intenção aqui não é apontar determinadas religiões ou tradições como corretas ou não, mas sim, trazer à tona realidade até então desconhecidas por muitos de nós, que vivemos em culturas distintas.
Um filme premiado no Festival de Toronto em 2016, e que “estranhamente”, mas propositalmente não utilizou-se do recurso de trilha sonora pra prender a emoção do público, muito pelo contrário, deixou com que a própria atuação, fotografia e figurino falassem por si só.
A produção escapa das obras hollywodianas tão acostumas pelo público em geral, mas não deixa de ser instigante, e mesmo sendo um tema tão presente e já discutido, não se torna enfadonho, pois consegue com delicadeza colocar o espectador na pele de cada personagem e até mesmo a entender o ponto de vista de cada um.
Apesar de ser apartidário e não tomar nenhuma posição, a produção acaba por ser um tanto quanto feminista ao mostrar não só a realidade ocidental, mas trazer à tona a questão do papel da mulher na sociedade e como suas vontades, decisões e seu próprio ser é mais pertencente ao outro do que a si mesma, a luta e o drama de Zahira não é só dela, mas todas que vivem em situações semelhantes, quer seja ocidental ou oriental.
Teve sua estréia na semana passada, em 22 de junho e tem tudo para ser uma grande obra e despertar de consciência na sociedade, levando-a a reflexão sobre suas imposições e regras que servem mais para trazer divisão e tragédia do que para unir e promover a igualdade entre as pessoas, pois, mais que um filme é uma análise e grande objeto de estudo antropológico, valendo a pena seus 98 minutos de produção.
Bom, se servir para despertar um novo olhar para a forma que tem caminhado a humanidade, já será uma evolução, pois contrário de muitas produções cinematográficas, este filme vai muito além de ser apenas um entretenimento. Agora basta conferir, bora lá! – “É claro que a vida é injusta, somos mulheres.”
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