Quando o primeiro capítulo da nova trilogia de Star Wars foi apresentado, logo veio a impressão de que se tratava de uma releitura do clássico “A Nova Esperança”. Mesmo com as suas incontestáveis qualidades, “O Despertar da Força” claramente segue uma linha narrativa muito parecida com a do longa da década de 70. Por causa disso, era de se supor que os próximos dois filmes seriam as representações de “O Império Contra-Ataca” e de “O Retorno de Jedi”. Não se pode dizer que “Star Wars: Os Últimos Jedi” não possua elementos de “O Império Contra-Ataca”, mas a produção se sobressai ao subverter algumas regras já conhecidas dos fãs da franquia e por ser corajoso em algumas escolhas que causam surpresa na plateia durante as duas horas e meia de projeção.
O que sempre estará presente no universo Star Wars é o seu grande tema central: a família. Rey (Daisy Ridley) é assombrada por não ter conhecido seus pais, Kylo Ren (Adam Driver) abraça ainda mais o lado negro da força por causa dos fatos ocorridos entre ele e seu pai, e Luke e Léia sofrem pela distância que os separa, além de seus arrependimentos do passado. Todo o aparato sci-fi usado serve para apoiar essas histórias intimistas. Claro que há a sempre bem vinda mensagem antifascista: é preciso derrubar o onipresente repressor, que esmaga a liberdade dos indivíduos com seu poderio bélico. Também já virou ponto comum a semelhança do império, aqui a nova ordem, com o Nazismo. As sequências de batalha em terra também remetem à primeira guerra mundial, a guerra travada em trincheiras.
A direção e o roteiro de Rian Johnson são os elementos que formam a excelência de “Os Últimos Jedi”. Batalhas de naves, lutas com sabres de luz e tiroteios de blasters são executados de forma primorosa. A já esperada infiltração de sabotagem em alguma instalação da primeira ordem é realizada, mas com um desfecho fora do comum em relação a outras já vistas nos filmes anteriores. Criaturas e cenários são belamente trabalhados, honrando a tradição de Star Wars nesse quesito. No final do terceiro ato nos é apresentado um planeta salino em sua superfície que “sangra” assim que é tocado por soldados ou naves de batalha. Abaixo do sal há uma camada vermelha, representando toda a violência de uma guerra. A fotografia nas sequências passadas nesse mundo merecem premiações no começo do ano que vem.
Formado e afiado por J.J Abrams, o elenco novamente dá um show. O carisma de Daisy Ridley é apaixonante, a fúria de Adam Driver é palpável, assim como são enigmáticas as intenções de Luke Skywalker, interpretado por um maduro Mark Hamill. John Boyega parece mais seguro em seu papel e Carrie Fisher nos brinda com sua última aparição como princesa Léia. Todas as dúvidas que se tinha sobre como ficou as participações da personagem após a morte da atriz são sanadas, já que o roteiro não foi picotado por conta de sua ausência. Se houve algum tipo de substituição por meio de CGI não é possível perceber. C3PO, R2D2 e BB-8 são a cereja do bolo nisso tudo. Tão conhecidos já antes da estreia, os porgs são apenas fofos e engraçados, mas irrelevantes para a trama. A decepção fica por conta de Snoke, não por causa da atuação sempre competente de Andy Serkis e sim pela falta de sentido com que o roteiro trata seus propósitos e seu destino. De Snoke não é possível falar muito para evitar spoilers.
Tudo descrito acima pode ser sintetizado por uma única palavra: paixão. A paixão que tanto fez falta nos episódios I, II e III de George Luca e que é de suma importância para Star Wars. Em “Os Últimos Jedi” as lágrimas do espectador são de emoção. A emoção por algo que, mesmo se passando em uma galáxia muito distante, parece real, não apenas uma simples simulação de vida criada por computador. Os heróis estão ao alcance e é isso que dá folego à resistência. O mito dos Jedi pode inspirar guerreiros futuros, assim como o faz em crianças pobres que são exploradas por comerciantes de armas. Aquela escória maltrapilha (uma clara referência a Oliver Twist) não mais se ajoelhará aos tiranos e se lembrarão de Luke Skywalker quando levantarem as armas da revolução. Star Wars nunca foi tão atual, a política é discutida nas entrelinhas e faz com que a nova geração de fãs se pergunte a respeito dos vilões de seu meio. Aqueles que não usam sabre de luz vermelho, mas são mais perigosos que Darth Vader.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Walt Disney Studios/Lucas Film
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