Através de um giro de 360 graus da câmera sobre seu próprio eixo, o diretor William Eubank apresenta, logo no primeiro plano de “Ameaça Profunda”, os três elementos que servirão de base para seu novo filme: os longos e anônimos corredores do laboratório submarino a 10 quilômetros de profundidade no Oceano Pacífico onde grande parte da trama se desenrola; o perigo constante, representado por um aviso de segurança numa parede; e a protagonista da história, a engenheira mecânica Norah, interpretada por Kristen Stewart. Logo, com os pilares do filme devidamente apresentados em pouquíssimo tempo, Eubank e os roteiristas Brian Duffield e Adam Cozad sentem-se livres para iniciar a trama imediatamente, com um acidente no laboratório iniciando os conflitos que se estenderão pelos 95 minutos de duração do longa. É uma pena, portanto, que “Ameaça Profunda” tenha tamanha dificuldade em criar qualquer tipo de tensão ou empatia com as personagens a partir daí.
Apesar de entregar uma boa performance, Stewart não é capaz de disfarçar a falta de profundidade dos dramas pessoais de Norah. Marcada pela morte de seu noivo, que se afogou durante um mergulho, a personagem isolou-se do mundo ao aceitar um emprego que a obrigasse a ficar grandes períodos de tempo no fundo do oceano, numa espécie de atitude masoquista que a impede de seguir em frente, como se, submersa, pudesse estar mais próxima do amado falecido. Em teoria, há um potencial nesse arco – a luta pela sobrevivência que a trama impõe sobre ela seria também uma busca pessoal por um novo motivo para continuar vivendo –, porém da forma que é executado, parece ser apenas uma tentativa dos realizadores de enfiar um mínimo de subtexto a uma obra que é, essencialmente, um filme de monstro. Não por acaso, essa mesma sensação também é percebida nos dramas das personagens secundárias, que nunca passam de meros esboços.
Por causa disso, espera-se que, pelo menos, o caráter visceral do filme seja bem-sucedido; o que, infelizmente, não é. “Ameaça Profunda” é carente de tensão, o que, considerando o gênero a que pertence, é uma falha considerável. Isso se deve, em parte, ao distanciamento entre espectador e personagens. Com dramas tão simplórios, é difícil se importar com o destino dessas pessoas e o que essa situação-limite representa para elas. Por outro lado, o diretor tem dificuldade em tornar o ambiente onde a trama se passa e as criaturas que ameaçam as personagens sensorialmente interessantes. Apesar de cumprir bem o seu papel de trazer verossimilhança ao local do laboratório submarino, a direção de arte muitas vezes é monótona, com vários cenários intercambiáveis; a fotografia, mesmo sendo eficiente, encontra poucas chances de explorar uma paleta de cores que fuja do azul, verde e preto (no máximo um vermelho); a trilha sonora se restringe ao bê-á-bá dos filmes de horror, dificilmente se destacando; os monstros são genéricos e imemoráveis. Enfim, a longo prazo, essa falta de variedade deixa o filme enfadonho, com set pieces pouco empolgantes.
Pelo lado positivo, há de se elogiar a decisão dos realizadores em não adotar flashbacks ou qualquer outro dispositivo narrativo que tire a trama do fundo do oceano. Apesar da monotonia visual, pelo menos, nesse sentido, o filme vai até o fim em sua proposta. Entretanto, não é o suficiente para fazer de “Ameaça Profunda” nada mais que um longa genérico (até o alívio cômico ruim e o negro que morre primeiro estão presentes) fadado ao esquecimento pouco depois de sair dos cinemas.
Imagens e vídeo: Divulgação/20th Century Fox
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.