Para o critico de cinema contemporâneo, se torna cada vez mais difícil ver um filme do qual ele não tenha ouvido falar. E isso acaba por tornar a experiencia de ver o filme, menos interessante do que deveria já que ver o filme se torna cada vez menos surpreendente. Curiosamente “Ana e Vitória” não gerou um grande rebuliço pré-lançamento(devido a uma fraca campanha de marketing), mas com isso consegue surpreender em diversos aspectos.
Ana (Ana Caetano) e Vitória (Vitória Falcão) já haviam até mesmo estudado juntas, mas apenas se aproximam de fato em uma festa realizada muito longe de sua cidade natal, a pequena Araguaína, no Tocantins. Após se apresentar na festa, Ana fica impressionada com a informal cantoria de Vitória, em uma rodinha de violão. Logo surge a ideia de gravarem algo juntas, que rapidamente explode na internet e chama a atenção do produtor Felipe Simas (Bruce Gomlevsky). A fama repentina as traz de volta ao Rio de Janeiro, para um show transmitido pela internet e a produção de seu primeiro álbum.
Pela sinopse acima, é muito fácil pensar na obra como “outro filme genérico, que só serve como peça de marketing para algum artista de sucesso”, mas o longa-metragem brilha, justamente por não focar na carreira e sim, na amizade da dupla. O que acaba dando ao filme uma característica na qual a maioria dos “buddy movies” nacionais falha, construir uma amizade que realmente convença como sincera.
A dupla, Ana Caetano e Vitória Falcão, tem o mérito de não só imprimir características próprias para suas personagens, como o lado mais avoado de Vitória ou a empolgação juvenil de Ana, mas também consegue contornar coisas que ocasionalmente seriam problemas, por exemplo, o fato das duas terem sotaques muito característicos, o que poderia deixar as personagens cartunescas demais e assim prejudicar as cenas de maior envolvimento emocional, mas a dupla consegue se manter da mesma forma.
Claro, que boa parte disso se deve ao roteiro de Matheus Souza (que também assina a direção) que usando de típicas frases da juventude moderna, constrói a personalidade de suas personagens: como em um dado momento em que uma personagem demonstra a pressão que é para ela se relacionar com uma garota usando um: “é que você é toda hipster sabe?”. Através dessas deixas de diálogo, ele consegue não só dar vida às suas personagens, mas também criar uma noção fixa de tempo em que elas vivem.
Outro mérito da direção de Souza, é como ele usa a fotografia e a composição do espaço para ilustrar ideias do texto, isso é facilmente observado em dois momentos muito claros: uma cena onde as protagonistas tem uma discussão sobre quem elas são e quem querem ser e a câmera insiste em mostrar suas imagens no espelho; e em uma cena musical onde vemos uma personagem enrolada nos cabos do microfone para ilustrar o quão amarrada a personagem ficou pela carreira musical.
Apesar de ser um musical, as sequências envolvendo músicas, dificilmente registram, com exceção da já citada (com o microfone enrolando a personagem) acima. A maioria sofre de falta de criatividade ou de escolhas estéticas que acabam desviando o foco das cantoras, como em uma cena em que apesar da música casar com o momento, a direção opta por cobrir o rosto das atrizes com filtros do Snapchat.
O recurso do filme de emular efeitos de redes sociais é funcional, porém em alguns momentos acaba tirando sua atenção da ação em si, como na cena musical com os filtros e em outros momentos, onde a tela do cinema fica com informações demais, inclusive desnecessárias para o espectador (é relevante para o espectador saber que a operadora do celular da personagem é a Tim? Não).
Além de momentos em que o texto acaba por explicar metáforas que já tinham ficado implícitas com diálogos. Em um dado momento próximo ao fim do filme, uma personagem faz um lindo paralelo entre seu relacionamento e a tinta de ingressos de cinema, mas a mesma personagem explica o paralelo de uma maneira bem didática momentos depois. Nada que quebre a imersão no filme, mas chega sim a incomodar.
Então, no fim, “Ana e Vitória“ com sua estética de celular e seu humor contemporâneo, consegue ser um “buddy movie” de dar inveja a qualquer grande produção.
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