Apesar de ser protagonizado pelo casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), a grande estrela de “Invocação do Mal” é a boneca Annabelle. O visual marcante aliado à velha obsessão do público com brinquedos macabros (vide Chucky, de “Brinquedo Assassino”) contribuíram para a entrada imediata de Annabelle na cultura pop. Logo, não surpreende que rapidamente foi criada uma franquia a sua volta. Porém, se o sucesso comercial veio fácil, a qualidade até hoje não apareceu.
O primeiro “Annabelle”, de 2014, é vergonhoso de tão ruim. Uma mistura de atuações canastronas, qualidade técnica questionável e sequências de horror mal construídas, o fazem digno apenas de risos involuntários. A continuação, “Annabelle 2: A Criação do Mal” é superior em todos os sentidos, porém termina se repetindo demasiadamente. O mais novo filme, “Annabelle 3: De Volta para Casa”, por sua vez, possui elementos que o diferenciam dos longas anteriores, mas no final, não consegue fugir da fórmula batida de sua franquia.
Ao contrário dos dois primeiros capítulos, que funcionavam como prequels a “Invocação do Mal”, esse terceiro filme se desenrola após os Warren levarem a boneca para sua casa, a fim de guarda-la em uma sala, junto de outros artefatos oriundos de suas investigações. Excetuando prólogo e epílogo, a trama toda ocorre em um único dia, quando a filha do casal, Judy (Mckenna Grace), fica sob os cuidados de sua babá Mary Ellen (Madison Iseman) enquanto os Warren estão fora.
Entretanto, uma amiga de Mary, Daniela (Katie Sarife), se convida para passar o dia junto das duas, uma vez que quer aproveitar a oportunidade para xeretar o lar dos Warren e, quem sabe, descobrir algum objeto que possa ajuda-la a se comunicar com o pai falecido. Porém, durante suas buscas, Daniela abre a vitrine em que Annabelle está guardada e, assim, liberta espíritos demoníacos à procura de uma alma.
Mantendo uma estratégia muito bem-sucedida no filme anterior, que se passava inteiramente em uma fazenda, “De Volta para Casa” se desenrola praticamente todo dentro do lar dos Warren, uma típica moradia de subúrbio americano. Essa economia espacial é muito benéfica ao longa, tanto pelos cômodos apertados e atravancados que trazem uma sensação claustrofóbica quanto pela facilidade com que o diretor e roteirista Gary Dauberman consegue transitar pela casa sem que o espectador se perca geograficamente.
Outro aspecto positivo importado do segundo episódio é a direção de atores. Era notável em “A Criação do Mal” a diferença no cuidado com as performances do elenco em relação ao primeiro “Annabelle”. Felizmente, a mesma atenção é mantida aqui. Além do já esperado sólido desempenho de Wilson e Farmiga como o casal Warren, o trio de protagonistas – junto de Michael Cimino como o vizinho Bob – se sai muito bem, especialmente nos momentos de interação entre as personagens antes das aparições demoníacas começarem.
Por isso é decepcionante o quanto “Annabelle 3: De Volta para Casa” piora ao longo da projeção. Inicialmente, o longa funciona muito bem, aliando satisfatoriamente os elementos típicos da série com outros, até então inéditos nesse universo. Como consequência da presença dos Warren na trama, Dauberman aproveita para vez ou outra subverter os clichês da franquia, criando um interessante e divertido humor metalinguístico. Portanto, quando um jump scare não se concretiza ou um possível sinal de presença paranormal se mostra algo completamente banal, os realizadores reconhecem as limitações da série (e nisso inclui-se todo o universo expandido de “Invocação do Mal”) ao mesmo tempo que lhe conferem um necessário frescor.
Entretanto, quando envereda de vez pelo terror (principalmente na segunda metade), “De Volta para Casa” perde sua individualidade e se torna apenas mais uma sequência interminável de portas batendo, vultos passando no fundo das cenas e fantasmas dando sustos nas personagens. Rapidamente a monotonia se instala e grande parte da novidade se dissipa em um mar de mesmice.
No final das contas, tem-se a impressão de que “Annabelle 3: De Volta para Casa” poderia ter sido um ótimo filme da Amblin, produtora famosa por, nos anos 1980, conseguir combinar muito bem comédia e cinema de gênero em títulos acessíveis ao grande público. Porém, entre explorar as possibilidades do universo em suas mãos ou continuar fazendo mais do mesmo, os produtores escolheram o mais do mesmo.
Imagens e vídeo: Divulgação/Warner Bros. Pictures
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