Resgatando o Legado dos Modernistas Brasileiros na Luta Contra o Nazismo
“A arte brasileira a serviço da democracia contra o nazismo” foi o título da manchete do Diário Carioca em 1944 que relatava a primeira grande exibição de obras de arte brasileiras no exterior. Os artistas modernistas buscaram através da exposição, organizada pelos próprios, lutar contra o nazismo arrecadando dinheiro para apoiar os aliados na segunda guerra mundial. Esse gesto diplomático curiosamente se perdeu na história, e as artes exibidas nas exposições foram espalhadas por acervos pessoais e porões de galerias no Reino Unido. O cineasta Zeca Brito busca, então, entender o motivo do esquecimento desses artistas pelos próprios brasileiros enquanto resgata da boca de críticos e especialistas a história dessas obras e da exposição no documentário “Arte da Diplomacia”.
O documentário, exibido na 25° edição do festival de cinema do Rio, nos faz navegar por entre as galerias brasileiras e europeias, nos apresentando a vida e obra de alguns artistas que participaram da ação diplomática, enquanto expõe as mesmas obras que estiveram nas paredes dos salões britânicos. Os travellings feitos pela câmera de Zeca por entre os corredores das galerias do Reino Unido nos dá a sensação de sermos transportados para a exibição de 1944. A interessante escolha narrativa reforça o aspecto de exibição artística: enquanto a história se desenrola entre os comentários sobre a relevância e a técnica das pinturas, as mesmas são enquadradas, fazendo que a experiência seja extremamente rica em detalhes, valorizando não só as obras, mas a vida dos próprios artistas.
O longa-metragem então não perde tempo, enquanto questiona o esquecimento dos modernistas, ele os resgata e demonstra toda a potência de sua arte, colocando em pauta o potencial brasileiro de grande exportador cultural, que tristemente, ainda não atingiu esse título. Por diversas vezes durante o documentário, os funcionários das galerias questionam ao cineasta se ele “enxerga” o Brasil naquelas obras, provando o olhar estereotipado que o exterior ainda possui do país como um todo, e reforçando a dura realidade de que a arte e a cultura brasileira sofrem uma espécie de apagamento do imaginário popular mundial.
O filme então assume esse importantíssimo papel de resgate, possuindo a clara intenção de abranger em sua plateia todo o tipo de público. Agradando especialistas de arte e historiadores com suas especificidades que saltam da boca de participações como Aracy Amaral, critica de arte brasileira, e Hayle Melim Gadelha, diplomata que inicia a investigação do evento histórico. O documentário, entretanto, em nenhum momento se torna tedioso. Pelo contrário, ele se demonstra extremamente cativante, onde a montagem corrobora para a construção de um filme capaz de entreter o público através de sua uma hora e meia de duração.
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Zeca Brito em a “Arte da Diplomacia” organiza uma mesa redonda para discutirmos o valor da cultura e da arte brasileira de forma magistral, cativando seu público com a vida dos participantes do movimento modernista brasileiro. O cineasta, através de sua obra, permite a nós um grande respiro em meio a guerra ideológica travada até hoje contra o fascismo, que mesmo em novas roupagens e estéticas, continuam a assolar o povo brasileiro.
* “Arte da Diplomacia” foi visto durante o Festival do Rio 2023.
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