Nonsense Park
Jane Austen, escritora inglesa muito conhecida por obras como “Orgulho e preconceito” e “Razão e sensibilidade”, possui leitores fiéis – muitas vezes obsessivos como membros de fã-clube – pelo mundo todo. Mas Jane Hayes (Keri Russell) parece ser um caso patológico. Maior de 30 anos, seu quarto poderia ser confundido com o de uma adolescente. A casa inteira parece pertencer ao Período Regencial. Vivendo em um mundo de fantasia em que o homem ideal é o Sr. Darcy (interpretado por Colin Firth na produção da BBC e cujo boneco de papelão ocupa em sua vida um espaço maior do que o namorado), ela resolve gastar suas economias viajando para Austenland, uma espécie de parque temático em que se pode experimentar viver como uma personagem de Austen. Viaja dos Estados Unidos para a Inglaterra já em trajes de época e chegando ao aeroporto encontra a autointitulada Srta. Elizabeth Encantadora (Jennifer Coolidge) que nada sabe de literatura, mas está interessada em vestidos e flertes. Em Austenland, são recebidas pela Sra. Wattlesbrook (Jane Seymour), que deixa bem claro que por ter comprado o pacote mais barato Jane estará fora de vários eventos da programação. Se esta hóspede já se excluía do mundo real no seu dia a dia, no território da fantasia ela também é colocada em posição menos privilegiada por não poder pagar muito.
“Austenland” é uma adaptação do livro de Shannon Hale, que o roteirizou juntamente com a diretora Jerusha Hess. O resultado é sofrível. Podemos pensar num lindo bolo decorado, daqueles de vários andares, que pode desmoronar a qualquer momento. Ou numa peça amadora mal escrita e mal dirigida feita para a Festa da Primavera da escola (ainda existe isso?). Eis a importância do roteiro e da direção para que um filme seja bem-sucedido: sem esses elementos, o elenco parece não ter propósito em cena e más atuações proliferam. JJ Feild, como Sr. Henry Nobley (o genérico do Sr. Darcy em Austenland) é o único que parece escapar da contaminação. Os demais não convencem muito. Curiosamente, a parte mais divertida do filme é quando as hóspedes do lugar e os jovens que ali trabalham – atores em trajes de época contratados para interagir com as damas – resolvem encenar uma peça. O espetáculo é um desastre, e por isso mesmo divertido. Mas o restante do filme também deveria produzir o mesmo efeito, e fica só na tentativa.
Felizmente, os figurinos são satisfatórios, assim como a decoração de Austenland. As locações externas são bem escolhidas – o longa foi filmado em West Wycombe Park, nos remetendo realmente aos cenários dos romances de Austen. As tomadas de um passeio no lago também foram feitas de ângulos favoráveis, desviando um pouco a atenção dos diálogos um tanto tolos. Parte da trilha sonora é condizente com a história, mas em vários momentos causa espanto a inserção de hits dos anos 80 como “Bette Davis eyes” e “Lady in red”. O filme é tão confuso quanto a mente da protagonista. Supostamente, nenhuma hóspede deve portar objetos que não pertençam ao Período Regencial, como celulares, por exemplo. Mas em outro momento, em uma das atividades manuais praticadas pelas moças vemos uma delas usando tranquilamente uma pistola de cola quente. Talvez tenha sido usada também para juntar as cenas “nonsense” que compõem o filme: o resultado é bastante superficial e frágil.
Quem espera se envolver na atmosfera dos romances da escritora inglesa deve escolher outro caminho, pois a decepção pode ser grande. A não ser que se tenha uma certa condescendência e paciência para enfrentar os 97 minutos de situações mal costuradas e atuações fracas. Se tivesse a oportunidade de assistir ao filme, Jane Austen certamente se reviraria no túmulo e ficaria de costas para a tela.
https://www.youtube.com/watch?v=kNOcs_XnycA
Neuza Rodrigues
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Quantas coisas boas, eu simplesmente adoro bolos e com suas receitas acredito que vou confeitar algumas maravilhas como estas suas. Parabéns