Carolina Markowicz dirige “Carvão”, um filme diferente do que vem surgindo no cinema brasileiro ultimamente, pois possui um humor negro bem acentuado, ao mesmo tempo em que envereda-se pelo macabro. A história é sobre Irene (Maeve Jinkings), seu marido Jairo (Rômulo Braga) e o filho de nove anos Jean (o estreante Jean de Almeida Costa, e que precisa ter um destaque posterior neste texto) que vivem uma vida simples sustentada por uma pequena carvoaria da qual são proprietários. Tudo muda, no entanto, após a família receber a proposta de abrigar o traficante argentino Miguel (César Bordón) em sua casa. O homem quer que todos pensem que ele está morto, então precisa ficar fora de vista por um tempo.
A interação entre os habitantes da casa com o gringo é deveras cômica. A diferença entre os costumes e a língua gera momentos engraçados, principalmente quando Jean está em cena. O garoto foi um achado, já que atua de forma natural, como se não estivesse em um filme. O seu sotaque carregado e a dificuldade de expressar algumas palavras ficam perfeitos para o personagem. Ele não faz feio nem se compararmos a sua atuação com a do elenco de atores profissionais, e olha que Maeve Jinkings e Camila Márdila (que faz a vizinha intrometida Luciana) estão praticamente perfeitas em seus papéis. As duas, além das palavras arrastadas de pessoas comuns do interior, ainda conseguem se expressar usando apenas seus olhares. Jinkings transmite o cansaço de uma vida, e Márdila faz os seus serem curiosos, indo de um lado ao outro, sempre procurando algo que possam observar.
Talvez os olhos sejam um dos elementos essenciais em “Carvão”, já que são eles que veem toda a violência que vai se sucedendo na tela. Isso porque, como dito acima, a obra é também macabra, além de engraçada. Há ainda os olhos dos fornos da carvoaria para onde vão todos os restos provindos da violência. O carvão assim se faz, negro, como a alma daquelas pessoas. O traficante, que era para ser um vilão, acaba por se tornar o mais puro personagem presente na história.
Portanto, “Carvão” é sobre a origem da maldade, e como ela pode surgir no ser humano mais ingênuo que exista. Não é preciso, portanto, que ele faça parte de uma organização criminosa, basta ter motivações ou ser moldado desde a infância para cometer atos hediondos.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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